quinta-feira, 19 de novembro de 2015

REUNIÃO LAUDATO SI’ - Louvado seja. Reflexão e Ação.


           "Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós. O movimento ecológico mundial já percorreu um longo e rico caminho, tendo gerado numerosas agregações de cidadãos que ajudaram na consciencialização. Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os crentes, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de nova solidariedade universal". Papa Francisco, Laudato Si'.

Dia 14 de novembro no salão paroquial Sta. Terezinha, o CEA-UNIFEG e a Paróquia N.S. das Dores realizaram mais uma reunião sobre a encíclica Papal Laudato Si’. Na oportunidade foram apresentados alguns capítulos da Encíclica pelos professores Cássio M. Monteiro, Emerson Ricciardi, José Oséias e Padre Reginaldo. Em seguida foi aberto um debate sobre os principais pontos e propostas de ações futuras com base na Encíclica.
Na reunião foi apresentado o projeto Plantando Vida Guaxupé e feito o convite para o plantio de árvores frutíferas nos dias 15 e 22 de novembro no Country Club de Guaxupé a partir das 08h30min. Também foi proposta a criação de uma pastoral da sustentabilidade na paróquia NS das Dores, cursos de qualificação para os catequistas em Educação Ambiental e palestras de conscientização ambiental para jovens e adultos de Guaxupé.
Ficou marcada para o dia 16 de janeiro de 2016 a próxima reunião de trabalho. A organização dos cursos e palestras ficou sob a responsabilidade do Centro de Educação Ambiental do UNIFEG.


sábado, 17 de outubro de 2015

COP 21: Mudança climática envolve poder, manipulação e guerra psicológica.

A Exxonmobil, por exemplo, gastou milhões de dólares montando um time de pesquisadores para manipular a opinião pública sobre o aquecimento global.




Na última década petrolíferas, montadoras, indústrias químicas, indústria do carvão, siderúrgicas usaram o poder econômico para desacreditar o debate que os cientistas começaram a realizar sobre o aquecimento global e a mudança do clima no planeta. A Exxonmobil, a maior petrolífera do mundo – US$400 bilhões em faturamento – financiou um grupo de 43 organizações para manipular a opinião pública entre 1998-2005. Chegou a criar um time de pesquisadores para escrever artigos contrários às teses de aquecimento global. Gastou pelo menos US$16 milhões. Nada comparado aos investimentos dos irmãos Koch – Charles e David -, que juntos administram uma fortuna de 68 bilhões de dólares. São os donos da Koch Industries – refinarias de petróleo no Alaska, no Texas e em Minnesota – fábricas de celulose como a Geórgia Pacífica e uma ligação umbilical com a ultra-direita estadunidense.
Koch pai construiu refinarias para Stálin
A tática imposta por estas corporações sempre foi a intimidação, comprando veículos de comunicação, cientistas e políticos. O documentarista Roben Greenwald autor do filme Koch Brothers Exposed, de 56 minutos, registra que os irmãos financiaram o Partido Republicado em US$407 milhões na campanha de 2012, usando uma rede de 17 organizações chamada de Freedom Partners. Denúncia comprovada pelo jornal The Washington Post no ano passado. O dinheiro não era para fazer campanha política direta, mas para incentivar o debate contra as ideias da reforma do sistema de saúde, do aumento das punições dos crimes ambientais ou das despesas do governo. No documentário são citadas outras quatro organizações que receberam dinheiro dos Koch:
- Cato Institute com US$13,6 milhões; Mercatus Center com US$9 milhões, Heritage Foundation com US$3,4 milhões e Reason Foundation com US$2,4 milhões.
Sem contar a Fundação dos norte-americanos pela Prosperidade – American for Prosperity – e da Associação Nacional do Rifle. Charles e David aprenderam com o pai que o governo é um perigo para os investimentos, o mercado é soberano para definir o progresso do país. Por ironia da história, o pai formado em engenharia química no tradicional MIT ajudou Stálin a construir 15 refinarias de petróleo na União Soviética da década de 1930. Depois da segunda guerra mundial os Koch passaram a enxergar o comunismo em qualquer canto. Um dos alertas dos Koch:
“- Os homens de cor são parte do grande plano dos comunistas para dominar a América”.
Ocorreu um racha entre as petrolíferas
A segunda maior empresa privada dos Estados Unidos e uma das 10 que mais poluem, a Koch Industries tem muitos motivos para lutar contra a redução de emissões de gases estufa. Assim como Exxon, Chevron e Conoco Philips, as petrolíferas norte-americanas. Elas ainda consideram que os combustíveis fósseis sustentaram a economia mundial por muitas décadas ainda. Porém, em 2015 ocorreu um racha entre as petrolíferas no mundo. As corporações europeias – Shell, BP, Total, Eni, Statoil -, respectivamente representantes da Holanda, Reino Unido, França e Noruega lançaram uma carta em junho passado fazendo uma mea culpa sobre o posicionamento anterior, de condenação às mudanças climáticas. Elas querem colocar um preço na poluição. Que, neste caso, é conhecido por carvão mineral.
Segundo relato da Bloomberg as petrolíferas europeias foram pressionadas pelo braço econômico das igrejas protestantes – no caso da Inglaterra com ativos na ordem de US$10 bilhões-, que ameaçaram jogar a discussão nas assembleias corporativas, denunciando o boicote das petrolíferas. Chegaram a consultar as corporações dos Estados Unidos, porém, a Exxon não compareceu à reunião no American Houston (Texas) e a Chevron se mostrou contrária a definição de um preço para o carvão.
Austrália considera o carvão vital
Trata-se de um confronto de hipócritas. Tanto Shell como a BP exploram petróleo nas areias de piche na província de Alberta, no Canadá, país que abandonou o Protocolo de Quioto em 2011, antes de ser multado por ultrapassar as emissões de gases estufa. Alberta concentra 35% das emissões e o Canadá não pretende abrir mão de 300 bilhões de barris de petróleo recuperáveis e faturar US$1,8 trilhão nos próximos 25 anos. Mas o carvão, que é o combustível fóssil mais poluente, é o paradoxo do capitalismo na atualidade. É denunciado em todas as esferas de discussões climáticas porque de cada tonelada extraída são jogadas 2,4 toneladas de gases de carbono, nitrogênio e enxofre na atmosfera. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos dependem dele para gerir 40% da eletricidade do país, a China 80%, a Índia 70% e a Austrália no mesmo padrão.
A imprensa mundial repercute notícias sobre os investimentos em energias limpas, mas não tratam do carvão. O primeiro-ministro da Austrália, Tonny Abott, por exemplo, disse no ano passado que o “carvão é vital para as futuras necessidades de energia do mundo e o carvão é bom para a humanidade”. A Austrália, um dos países da OCDE tem um nível de poluição de 25 toneladas por habitante, acima de qualquer dos outros 34 membros e acima dos Estados Unidos – tem 20 toneladas per capita. O Hunter Valley, a 120 km de Sidney produziu em 2013, 145 milhões de toneladas de carvão, a maior parte exportada – a Austrália é o maior exportador mundial. O governo do estado de Nova Gales do Sul, onde fica o Hunter Valley diz que o carvão propicia 11 mil empregos e gera salários de mais de um bilhão de dólares.
Reino Unido e Alemanha maiores importadores de carvão
Os Estados Unidos lançaram um plano para incentivar o uso de energias renováveis e reduzir emissões, porém as metas serão discutidas pelos 50 estados e está previsto um plano de negociações de direitos de poluir. Estados como Wyoming, Virginia Ocidental e Texas são produtores e mantêm usinas térmicas movidas a carvão. O Texas colocou 19 usinas fora dos limites do governo federal, para que não fossem enquadradas pela legislação ambiental. A China produz 1,289 milhões de toneladas equivalentes de petróleo em carvão. Os Estados Unidos estão em segundo lugar com 587,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo e terceiro lugar para a Índia com 181 milhões. O Japão está em quarto lugar e a Alemanha em sétimo. Não se pode esquecer que o carvão derrete o ferro, produz ferro gusa e aço, o que movimenta a construção civil, montadoras e etc. Aliás, Reino Unido e Alemanha são os maiores importadores.
Hipocrisia na Europa – caso da Polônia
Como diz o presidente da Associação Mundial do Carvão, Milton Catelin:
“- O carvão tem alimentado as economias nacionais e globais e continuará a desempenhar um papel fundamental no futuro. O desenvolvimento sustentável requer que o carvão seja considerado não apenas através das lentes do aquecimento global, mas através do seu impacto na segurança energética, desenvolvimento social, econômico e melhoria ambiental. As elites políticas estão se baseando em fatos incorretos e são facilmente seduzidas pelo politicamente correto.”
A hipocrisia europeia também ficou escancarada durante a COP 19, em Varsóvia, na Polônia, país que depende 90% do carvão para gerar eletricidade. O Movimento Nacional Polonês, juntamente com o Sindicato Solidariedade desfilaram pelas ruas na Marcha pela Independência defendendo as políticas do governo direitista que não abre mão do linhito e da hulha. Independente da política da União Europeia de reduzir as emissões em 20% até 2020. A Marcha pela Independência da direita polonesa foi apoiada pelo Comitê para um Amanhã Construtivo, organização que tem um fundo de doadores, comandado pelos irmãos Koch.
Não respeitam lei alguma
O que as corporações querem e estão defendendo dentro do sistema ONU são tecnologias para limpar o carvão, desde a captura e enterramento do gás carbônico, até a gaseificação do carvão. Ou seja, usando uma tecnologia que introduz nas minas um oxidante – vapor de água, hidrogênio, oxigênio – com pressão e alta temperatura transformam o sólido e um gás síntese, como é chamada, carregado de hidrogênio, nitrogênio e enxofre, que serve de matéria-prima para a indústria química e para produzir eletricidade. O que as corporações querem é CCS e GCS.
Na verdade, cada vez mais o debate sobre as mudanças climáticas coloca de um lado as corporações e seus movimentos políticos que são definidos como a nova direita, caso do Tea Party, considerado pelos irmãos Koch como a melhor novidade nos Estados Unidos desde a independência. De outro, os movimentos sociais que lutam por uma planeta justo, multiético, plural e protegendo os ecossistemas naturais. O fundador do Center for Public Integrity, Charles Lewis deu uma declaração para a revista The New Yorker alguns anos atrás sobre os irmãos Koch, que define este momento:
“- Eles não respeitam lei alguma, praticam todo tipo de manipulação política e práticas para burlar os controles públicos. Os Koch são a Standard Oil dos nossos tempos”.

Foi a primeira corporação mundial comandada por John Rockfeller e traçou a maneira de atuar dos trustes internacionais no século passado. 

FONTE:  http://cartamaior.com.br/

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

APRESENTAÇÃO DO PROJETO POLI – CEA - UNIFE

Nesta quinta feira dia 24/09 na EE Dr. André Cortez Granero foi apresentado para os professores, projeto multidisciplinar visando a Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Elaborado pelo Centro de Educação Ambiental CEA-UNIFEG, sob a coordenação do Prof. Cássio M. Monteiro e os estagiários: Danilo de Souza Greco e Guilherme Henrique Fávero do curso de Ciências Biológicas do UNIFEG e professores de biologia da EE Dr. André Cortez Granero seguindo as normativas do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola).
O PDDE Escolas Sustentáveis, oferecido nos moldes operacionais estabelecidos pelo FNDE, consiste no repasse financeiro, por meio de transferência de recursos de custeio e de capital, para promover ações voltadas à melhoria da qualidade de ensino e apoiar as escolas públicas das redes distrital, municipais e estaduais na adoção de critérios de sustentabilidade socioambiental, considerando o currículo, a gestão e o espaço físico, de forma a torná-las espaços educadores sustentáveis.
Tornar a escola um espaço educador sustentável contribuirá com a melhoria da relação de aprendizagem. Mas, afinal, o que é uma escola sustentável?
•Promover a saúde das pessoas e do ambiente.
•Cultivar a diversidade biológica, social, cultural, etnorracial, de gênero.
•Respeitar os direitos humanos, em especial de crianças e adolescentes.
•Ser segura e permitir acessibilidade e mobilidade para todos.
•Favorecer o exercício de participação e o compartilhamento de responsabilidades.

PROPOSTA

Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar, apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da água, do planeta. Educar é, enfim, enfrentar o desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis e diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia das relações humanas, neste mundo complexo.

Escolas sustentáveis são definidas como aquelas que mantêm relação equilibrada com o meio ambiente e compensam seus impactos com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, de modo a garantir qualidade de vida às presentes e futuras gerações. Esses espaços têm a intencionalidade de educar pelo exemplo e irradiar sua influência para as comunidades nas quais se situam. A transição para a sustentabilidade nas escolas é promovida a partir de três dimensões inter-relacionadas: gestão, espaço físico e currículo.

Gestão: compartilhamento do planejamento e das decisões que dizem respeito ao destino e à rotina da escola, buscando aprofundar o contato entre a comunidade escolar e o seu entorno, respeitando os direitos humanos e valorizando a diversidade cultural, étnico-racial e de gênero existente.
Espaço físico: utilização de materiais construtivos mais adaptados às condições locais e de um desenho arquitetônico que permita a criação de edificações dotadas de conforto térmico e acústico, que garantam acessibilidade, gestão eficiente da água e da energia, saneamento e destinação adequada de resíduos. Esses locais possuem áreas propícias à convivência da comunidade escolar, estimulam a segurança alimentar e nutricional, favorecem a mobilidade sustentável e respeitam o patrimônio cultural e os ecossistemas locais.
Currículo: inclusão de conhecimentos, saberes e práticas sustentáveis no Projeto Político-Pedagógico das instituições de ensino e em seu cotidiano a partir de uma abordagem que seja contextualizada na realidade local e estabeleça nexos e vínculos com a sociedade global.


“Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção (e transformação) no mundo” (Paulo Freire).




domingo, 6 de setembro de 2015

NERVOSISMO e PRESSÃO nas NEGOCIAÇÕES CLIMÁTICAS em BONN.

 O principal objetivo do tratado é reduzir as emissões de gases do efeito estufa, de forma a que não afetem a vida no planeta e seus ecossistemas.



Bonn, setembro de 2015 (IPS) – As negociações sobre o texto final do novo tratado destinado a frear o aquecimento global do planeta avançam num clima entre o nervosismo e a pressão, na cidade alemã de Bonn, embora também seja evidente a falta de ambição que o momento requer.
O novo acordo universal e vinculante deverá ser aprovado em dezembro, em Paris, pelos 195 países que participarão da 21ª Conferência das Partes (COP21), a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Climática.
O principal objetivo do tratado é reduzir as emissões de gases do efeito estufa, de forma a que não afetem a vida no planeta e seus ecossistemas, o que se apresenta hoje como um dos desafios mais importantes que a humanidade enfrenta atualmente.
A conferência reúne negociadores de todos os países, que se encontram em Bonn desde o dia 31 de agosto, e cujo encerramento aconteceu nesta sexta-feira (4/9), a menos de noventa dias do início da COP 21 – no dia 30 de novembro.
Enquanto não se chega a um acordo, a tensão aumenta. Nos últimos meses, muitos governos apresentaram suas contribuições nacionais previstas e determinadas (as chamadas INDC, em sua sigla em inglês), os documentos onde cada país explica quais são os seus objetivos de redução de emissões de contaminantes e de adaptação aos impactos no clima do planeta.
O conjunto desses compromissos e objetivos deve conformar um quadro que possa evitar um aumento na temperatura do planeta superior aos dois graus centígrados, considerado por boa parte da comunidade científica como o limite que o planeta pode suportar – um aumento acima desse nível colocaria em risco a preservação dos ecossistemas, entre outros grandes impactos.
Mas as INDC, ao parecer, ainda não são suficientes.
 Segundo um estudo recente apresentado por vários institutos internacionais, as contribuições divulgadas até agora representam 65% das emissões globais.
A análise assegura que a ambição destas reduções não é suficiente e levariam a um nível de aquecimento superior aos dois graus de incremento considerados seguros.
O Grupo de Governança Para o Clima, da Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), também realizou em detalhe os compromissos apresentados pelos países do chamado Top-15 (os maiores emissores): China, Estados Unidos, União Europeia, Rússia, Canadá, Japão, Coreia e México.
Sua perspectiva de análise é um pouco distinta, baseada nos conceitos de níveis de carbono e de justiça climática.
Os níveis de carbono são medidos a partir dos gases do efeito estufa, que ainda podemos emitir antes de chegar aos dois graus, o limite seguro de aumento da temperatura. A estimativa é de que um nível ao redor dos 1800 GT de dióxido de carbono seria equivalente a alcançar esse limite.
A justiça climática é um conceito que pretende integrar critérios de equidade e justiça nos acordos climáticos. Por exemplo, levando em conta a quantidade de gases emitidos historicamente pelos países para se formar um juízo a respeito de suas responsabilidades – o que significa, evidentemente, exigir maior compromisso de redução das emissões àqueles países que estão entre os maiores contaminadores de todos os tempos, como a União Europeia e os Estados Unidos.
Combinando esses conceitos, o grupo de investigação considerou que as contribuições apresentadas superam amplamente o nível de carbono considerado limite pelos estudiosos do grupo.
Segundo Olga Alcaraz, professora da UPC, “tendo em conta os compromissos que analisamos, podemos esperar que, lá pelo ano de 2030, o mundo já terá que enfrentar um nível de carbono na atmosfera muitíssimo superior ao que pode suportar”.
“Os países analisados serão responsáveis por 79% dessas emissões, perpetuando e consolidando um modelo bastante injusto de distribuição da contaminação”, assegurou Alcaraz, em entrevista à IPS, onde também alertou sobre os limites de temperatura recomendados pelos cientistas.
Aplicando o conceito de níveis de carbono sobre as propostas apresentadas pelos grandes contaminadores, poderia se dizer que, nos próximos 15 anos, esses países superarão em 60% o nível de carbono que poderiam gerar como máximo.
É por isso que Josep Xercavins, também professor da UPC, destaca a importância destas negociações.
“O mais importante agora é introduzir o conceito dos níveis de carbono e a ideia de justiça climática nos textos que estão sendo propostos na negociação. Necessitamos um acordo que aponte nessa direção”, afirmou o acadêmico.
A verdade é que existem muitas formas de pressionar para que os países sejam mais ambiciosos em suas contribuições nacionais.
A proposta mais discutida durante as deliberações destes últimos dias em Bonn é o que se conhece como os “ciclos de cinco anos”.
O que se busca com esse conceito é fazer com que os países atualizem seus compromissos com relações a suas emissões a casa cinco anos, assegurando que eles sejam cada vez mais ambiciosos em termos de redução, e ao mesmo tempo revisar o cumprimento das INDC anteriores.
A ideia de incrementar continuamente a ação em favor da segurança climática poderia combater essa falta de ambição atual, e inclusive ajudar a conseguir maior financiamento para programas voltados a esses ciclos.
Dessa forma, os países desenvolvidos poderiam ajudar os países em desenvolvimento a serem mais ambiciosos, proporcionando a eles ajuda técnica e econômica.
Finalmente, os ciclos se enquadram dentro do conceito do que se chama “objetivo a longo prazo”, que pretende que a meta final seja a descarbonização da economia, ou seja, chegar até a metade deste século com um nível zero de emissão de gases do efeito estufa.
Isabel Bottoms, investigadora da iniciativa Track 0, argumenta que “o objetivo a longo prazo é simplesmente a visão do futuro que nós queremos”.
“Os ciclos políticos atuais significam que as políticas domésticas são vulneráveis, já que boas iniciativas podem ser retiradas numa mudança de governo, por exemplo, cancelando as iniciativas de substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis”, afirmou a cientista.
Para ela, “um objetivo vinculante ajuda a criar incentivos a longo prazo, que é precisamente o que as empresas necessitam, inclusive durante as mudanças entre governos”.
Os seis dias de negociações foram concluídos nesta sexta-feira (04/09), mas as conversas serão retomadas em meados de outubro, tentando alcançar novamente um texto para o acordo, que precisa ser ambicioso, bem mais que agora, e também justo, e que estabeleça um limite efetivo para as emissões de forma a realmente preservar o planeta de danos severos no futuro.

*Anna Pérez Català é ambientologista e especialista em temas relacionados à mudança climática.

SITE CARTA MAIOR  http://cartamaior.com.br/

sábado, 29 de agosto de 2015

Rio Tâmisa de Londres tem focas e baleias 50 anos após ‘morte’ por poluição. (exemplo a ser seguido pelo Rio Tietê em SP)

        O rio Tâmisa, que cruza a capital britânica, Londres, já foi chamado de “O Grande Fedor” e declarado “biologicamente morto”, mas atualmente, vive uma espécie de renascimento.
A Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês) afirma que, nos últimos dez anos, foi informada sobre o avistamento de 2.732 mamíferos de grande porte.
Focas são os animais mais vistos, com registro de vários espécimes inclusive na região de Canary Wharf, conhecida por seus modernos arranha-céus.
Também foram documentados no rio 444 botos e golfinhos, além de 49 baleias.
“Muitos olham para o Tâmisa e veem um ambiente turvo e sujo. Mas, na verdade, sob a superfície, está cheio de vida. Temos uma enorme variedade de peixes, invertebrados e grandes predadores”, afirmou Joanna Barker, gerente europeia de projetos da ZSL.
Em 1957, o Tâmisa andava tão sujo que autoridades o declararam “biologicamente morto”. A situação era pouco melhor do que um século antes, quando o rio era conhecido pelo apelido carinhoso de “Grande Fedor”.
Rio acima – Hoje, a situação mudou tanto que cada vez mais animais se aventuram rio acima. Focas já foram vistas até em localidades no sudoeste, além do centro de Londres, como Teddington e o palácio de Hampton Court.
Grandes grupos de golfinhos e botos também já foram avistados perto de Kew Gardens e Deptford.
Em 2006, uma baleia-bico-de-garrafa causou burburinho ao nadar o rio até a altura do centro de Londres. Ela acabou morrendo.
Outras baleias mais saudáveis já foram vistas nos arredores de Gravesend, no condado de Kent.
“O fato de termos visto tantos animais na região central de Londres indica que os estoques pesqueiros são grandes o suficiente para alimentar estes grandes predadores”, afirmou Barker à BBC.
Além de compilar uma lista de avistamentos enviados pelo público, a equipe da ZSL também realiza pesquisas detalhadas sobre focas no estuário do Tâmisa.
Nos três últimos anos, os cientistas vêm usando barcos e até aviões para monitorar o número de focas no rio.
Eles estimam que até 670 focas-comuns vivam no estuário. O número de focas-cinzentas é desconhecido, mas elas também parecem estar se proliferando na região.

“Essa é uma região bastante abrigada, se comparada ao Mar do Norte, e há diversos ambientes e habitats diferentes para mamíferos marinhos”, afirmou Barker. “Por isso, consideramos Londres e o estuário do Tâmisa um ambiente importante para estas espécies.”

A ZSL pede a colaboração de todos para enviarem fotos e outros registros de avistamento de mamíferos marinhos no Tâmisa. (Fonte: BBC)

sábado, 11 de julho de 2015

O CUIDADO DA NOSSA CASA HOJE PARA O FUTURO

“Louvado seja, sobre o cuidado da casa de todos nós”. É o título da Encíclica recém publicada do Papa Francisco sobre o meio ambiente. O ponto central? “A Terra está ferida, é necessária uma conversão ecológica”. Poluir, contribuir para o aquecimento global, para a desflorestação é – no fundo – um pecado.


Trata-se de uma encíclica para todos, não apenas para os cristãos. Com ela Francisco lavra mais um tento na sua já longa lista de intervenções fundamentais sobre os problemas do mundo contemporâneo. Pela primeira vez a Igreja publica um documento oficial sobre questões do meio ambiente e da sua salvaguarda.
Um chamado à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu aos seres humanos “criar e manter o jardim”. O Papa pede claramente uma mudança radical no consumo do planeta encontrando ao centro do “Louvado seja” esta pergunta: “Que tipo de mundo queremos passar para aqueles que virão depois de nós, para as crianças que agora estão crescendo?”
A Encíclica delineia um percurso histórico preciso, que leva a atenção do mundo à importância de ter no coração o futuro do Planeta Terra.
1 . A crise ambiental corresponde a crise social
Para o Papa, as razões pelas quais um lugar é poluído exige uma análise do funcionamento da sociedade, a sua economia, o seu comportamento, suas formas de compreensão da realidade. Dada a magnitude das mudanças, não é mais possível encontrar uma resposta específica e independente para cada parte individual do problema.
É essencial procurar soluções abrangentes, que considerem a interação dos sistemas naturais uns com os outros, juntamente com os sistemas sociais. “Há duas crise separadas, um problema ambiental e outro social, mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. As orientações para a solução exige uma abordagem abrangente para combater a pobreza, para restaurar a dignidade aos excluídos e ao mesmo tempo para cuidar da natureza”, diz o texto.
2. Não à poluição, ao lixo e à cultura do desperdício.
A cultura do desperdício é prejudicial aos seres humanos excluídos, porque as coisas se transformam rapidamente em lixo. Papa Francisco explica:
“Perceba, por exemplo, que a maior parte do papel que é produzido é jogado fora e não reciclado. Quase não reconhecemos que o funcionamento dos ecossistemas naturais é exemplar: As plantas sintetizam nutrientes que alimentam os herbívoros, e estes, por sua vez alimenta os carnívoros, que fornecem quantidades importantes de resíduos orgânicos, o que dá origem a uma nova geração de plantas. Em contraste, o sistema industrial, no final do ciclo de produção e consumo, não desenvolveu a capacidade de absorver e reutilizar o desperdício e o dejeto. Ele ainda não conseguiu adotar um padrão circular de produção para garantir recursos para todos e para as futuras gerações, o que nos obriga a limitar o uso dos recursos não-renováveis, moderar o consumo, reutilizar e reciclar. A resolução desta questão seria uma maneira de combater a cultura do desperdício que acaba prejudicando todo o planeta, mas vemos que os progressos nessa direção ainda são muito limitados.”
3. As mudanças climáticas dependem do homem
O ponto de partida consiste de uma escuta espiritual dos melhores resultados científicos disponíveis hoje sobre o meio ambiente, para se deixar tocar profundamente e dar uma base concreta para o caminho ético e espiritual que segue. “A ciência é o instrumento-chave através do qual podemos ouvir o grito da Terra. Na perspectiva da Encíclica – e da Igreja – é suficiente que a atividade humana é um dos fatores que explicam a mudança climática, pois resulta em uma grave responsabilidade moral de fazer tudo o que pudermos para reduzir o nosso impacto e para evitar os efeitos negativos sobre o meio ambiente e os pobres.
“O clima é um bem comum de todos e para todos. Ele, no nível mundial, é um sistema complexo em relação a muitas condições essenciais para a vida humana. Há um consenso científico muito significativo que indica que estamos testemunhando um preocupante aquecimento do sistema climático. A humanidade é chamada a tornar-se consciente da necessidade de mudar de vida, da produção e do consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou o acentuem”, escreve o Papa.
4. Abraçar o decrescimento
“É hora de aceitar uma certa diminuição em algumas partes do mundo procurando recursos para que possamos crescer de forma saudável em outras partes. Sabemos que é insustentável o comportamento de quem consome e destrói mais e mais, enquanto outros não conseguem viver em conformidade com a sua dignidade humana. Portanto, é hora de aceitar um determinado decrescimento”, disse Bergoglio.
“O que está acontecendo nos faz enfrentar a necessidade urgente de proceder a uma revolução cultural corajosa. A ciência e a tecnologia não são neutras, mas podem implicar do começo ao fim em um processo diferente de intenções e possibilidades, e podem se configurar de várias maneiras. Ninguém quer voltar para a caverna, mas é essencial retardar a marcha para ver a realidade de outra maneira, acolher os desenvolvimentos positivos e sustentáveis e, ao mesmo tempo recuperar os grandes valores e propósitos destruídos por uma megalomania desenfreada”.
5. Atenção ao OMG e à vivissecção
O Papa observou como em muitas áreas, em decorrência da introdução de organismos geneticamente modificados (OGM), plantas ou animais, viu-se uma concentração de terras produtivas nas mãos de poucos, devido ao “desaparecimento gradual dos pequenos produtores, que, como resultado perderam suas terras cultivadas e foram forçados a abandonar a produção direta”.

A propagação destas culturas destrói a teia complexa de ecossistemas, diminui a diversidade da produção e afeta o presente e o futuro das economias regionais. Em vários países existe uma tendência no desenvolvimento de oligopólios na produção de sementes e de outros produtos necessários para o cultivo, e a dependência se aprofunda quando se considera a produção de sementes estéreis, que acabaria forçando os agricultores a comprar dos produtores.

domingo, 21 de junho de 2015

IBGE faz raio X do desenvolvimento sustentável do país em 63 indicadores.



O IBGE lançou nesta sexta-feira (19/06) um extenso relatório com 63 indicadores, incluindo várias séries históricas, que traçam um panorama da sustentabilidade da forma de desenvolvimento do Brasil.
A 6ª edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) Brasil 2015 mostra que o país está avançando em diversas áreas ambientais, sociais e econômicas, mas tem muito por avançar em outras.
A proporção do uso de energia não-renovável, por exemplo, aparece em queda no relatório do IBGE, enquanto o consumo de energia em geral cresce mais rapidamente que a população. O desmatamento da Amazônia tem diminuído, mas ainda consome milhares de quilômetros quadrados de floresta a cada ano. Os casos de doença por falta de saneamento têm diminuído, mas os que têm insetos como causa aumentaram.
O relatório usa dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), Produto Interno Bruto (PIB), Pesquisa da Produção Agrícola Municipal (PAM) e Projeção da População do Brasil, todos do IBGE, além de dados de ministérios, secretarias estaduais e municipais, Ibama, Data SUS, Iphan, Unesco e outras instituições.
Veja abaixo alguns destaques do IDS 2015:
População em áreas costeiras – Um dos dados apresentados pelo instituto é o aumento de 33%, entre 1991 e 2010, da população residente no litoral, saltando de 34,3 milhões para 45,7 milhões.
Um dos principais efeitos da mudança climática, previsto por cientistas, é o aumento do nível do mar em decorrência do degelo dos polos.
Essa elevação pode afetar as populações que vivem áreas costeiras, inclusive no Brasil. A região do país com maior vulnerabilidade à elevação dos oceanos é o Nordeste. Dos 53 milhões de habitantes distribuídos por nove estados, 20 milhões moram na costa litorânea.
Emissões de CO2 – Ainda em relação à questão das mudanças climáticas, o relatório do IBGE, baseado em dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ressalta que as emissões de dióxido de carbono (CO2) do país aumentaram 65% entre 1990 e 2005.
Em números absolutos, o total de dióxido de carbono liberado na atmosfera no país saltou de 991.731 gigatoneladas para 1.637.905 gigatoneladas.
O CO2 é um poderoso gás de efeito estufa e o aumento de seus níveis preocupa por influenciar o aumento da temperatura do planeta, responsável por provocar as mudanças climáticas.
Entre 1990 e 2010, o setor de energia foi o que mais emitiu dióxido de carbono no Brasil. O total foi crescente no período, saltando de 179.948 gigatoneladas para 382.698 gigatoneladas. Houve aumento também nas emissões provenientes de processos industriais e tratamento de resíduos. Na agricultura, houve alta no lançamento de gases como metano e óxido nitroso.
Desmatamento – O IBGE incluiu em seu relatório os dados do Sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostram que o ritmo do desmate da Amazônia, entre subidas e descidas, diminuiu entre 1991 e 2013.
Em 1991, o desflorestamento bruto na Amazônia Legal (bioma que abrange todos os estados da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão) foi de 11.030 km². A devastação atingiu seu pico em 1995 (29.059 km²), mas houve nova redução. Em 2013, último dado tabulado pelo IBGE neste relatório, houve perda de 5.843 km².
As informações representam o índice oficial de perda de vegetação amazônica do governo federal e avaliam os meses que integram o chamado “calendário do desmatamento”, relacionado com as chuvas e atividades agrícolas (o índice de 2013, por exemplo, vai de agosto de 2012 a julho de 2013).
Mata Atlântica e Cerrado – O relatório apresenta ainda a quantidade de áreas remanescentes de vegetação nos demais biomas brasileiros. A partir de informações do Ibama, o documento mostra que, até 2012, restavam 14,5% da vegetação original de Mata Atlântica (189,5 mil km² de 1,3 milhão de km²).
Do Pampa, presente na Região Sul, até 2009 restavam 36%, o equivalente a 63,7 mil km². Até 2010, o Cerrado teve desmatado 49,1% de sua vegetação original, restando 1,03 milhão de km².
Do Pantanal, ainda há 84,6% de área preservada, o que totaliza 127,2 mil km². Ainda de acordo com o relatório do IBGE, 46,6% da Caatinga foram desmatados até 2009, restando 441,2 mil km² do bioma.
Queimadas – Entre 2008 e 2013, o Cerrado foi o bioma que mais registrou focos de queimada, de acordo com os dados do IBGE, a partir do monitoramento de focos de calor do Inpe.
No período, o Brasil registrou 937,7 pontos de calor, sendo que 373,7 mil (39,8%) ocorreram nos oito estados que compõem o Cerrado.
Os dados do relatório do IBGE mostram que 1.152 espécies da flora e da fauna brasileira são consideradas ameaçadas de extinção. Os números apresentados são de 2008, portanto o número desde então pode ter aumentado.
A Mata Atlântica é o bioma brasileiro com a maior quantidade de espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção. São 544 espécies (275 da flora e 269 da fauna) em risco de desaparecer.
Agrotóxicos – A quantidade de agrotóxico entregue ao consumidor final mais que dobrou entre 2000 e 2012, segundo o IBGE. Em 2002, quando houve o menor uso no período, a comercialização do produto era de 2,7 quilos por hectare. Em 2012, esse número chegou a 6,9 kg/ha.
O relatório apontou que os produtos considerados perigosos foram os mais representativos, respondendo por 64,1% dos itens comercializado entre 2009 e 2012. Segundo o especialista do IBGE, esse resultado foi puxado por um herbicida denominado glifosato.
“É um produto medianamente perigoso e muito usado na cultura da soja. Está-se usando muito no país, principalmente na área do Cerrado e do Centro-Oeste. Glifosato é o componente mais comercializado”, disse Rodrigo Pereira, gerente de estudos ambientais da coordenação de recursos naturais e estudos ambientais do IBGE.
Doenças por falta de saneamento diminuíram – De 2000 a 2013, diminuíram as internações por doenças relacionadas a falta de saneamento ambiental no Brasil. Se, em 2000, havia 326,1 internações por esse tipo de doença a cada 100 mil habitantes, em 2013, o número caiu para 202,6 a cada 100 mil.
Nesse período, diminuíram os casos de doenças de transmissão feco-oral, de transmissão pela água e relacionadas com a higiene, aponta o IBGE. As doenças transmitidas por insetos, porém, aumentaram. Em 2000, foram 22 casos por 100 mil habitantes, número que subiu para 34,9 casos por 100 mil habitantes em 2013.
A região com maior incidência desse tipo de doença em 2013 foi o Norte. Já o Sudeste foi a região com a menor incidência do problema.
Aids aumentou – A incidência de Aids aumentou de 2000 para 2012: passou de 16,6 para 20,2 a cada 100 mil habitantes. Ainda de 2000 a 2012, o Brasil registrou um aumento de 4,7 anos na esperança de vida ao nascer: a expectativa foi de 69,8 para 74,5 anos.
No mesmo período, houve uma redução da mortalidade infantil de 29,02 por mil nascidos vivos para 15,69 por mil nascidos vivos. Em 2012, a maior taxa de mortalidade infantil foi registrada no Nordeste: 20,5 por mil nascidos vivos. A menor taxa foi observada no sul: 10,8 mortes por mil nascidos vivos.
A desnutrição em crianças menores de 5 anos também vem diminuindo progressivamente. Entre 2008 e 2009, a prevalência foi de 2,8%. Esse índice era de 18,4 entre 1974 e 1975. De 2002 a 2009, aumentou o número de estabelecimentos de saúde por mil habitantes: de 0,37 para 0,49. O número de leitos para internação, porém, diminuiu, passando de 2,6 para 2,23 por mil habitantes.
Educação – Os dados compilados pelo IBGE mostram que o Brasil tem avançado rumo ao cumprimento de metas internacionais, mas que ainda há desigualdades. Uma das áreas destacadas pelo levantamento é a alfabetização de adultos.
Segundo a Pnad 2012, no Distrito Federal e nos estados do Amapa, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, a taxa de alfabetização de jovens e adultos de cor branca é de entre 95,1% e 97,2% da população.
Já entre os jovens e adultos pretos ou pardos, só no Distrito Federal e no Espírito Santo a taxa chegou a esse patamar. Há ainda três estados (Alagoas, Maranhão e Paraíba) onde a taxa varia entre 76,5% e 80% para os jovens e adultos negros. No caso dos brancos, nenhum estado tem taxa abaixo de 80%.
A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é ter, até o fim deste ano, 93,5% das pessoas com 15 anos ou mais alfabetizadas, e 100% até 2024. Em 2013, a taxa média nacional era de 91,5%.
Menos energia renovável – A energia renovável – hidrelétrica, gerada com lenha e carvão vegetal, derivados da cana-de-açúcar, entre outras fontes primárias renováveis – perdeu participação na matriz energética brasileira em 2012, mostra o IDS. Naquele ano, ela registrou sua menor participação em uma década: 42,4%.
“Houve queda forte na cana de açúcar e derivados, queda na hidráulica, em função principalmente de fatores climáticos. Estamos passando por uma certa seca. Isso já vem de algum tempo. A lenha também: na medida que diminuiu o desmatamento, diminui a lenha”, explica o pesquisador de Recursos Naturais do IBGE, Júlio Gonçalves.
Mais energia não-renovável – A participação de energia não-renovável na matriz energética brasileira cresceu de 56,1%, em 2003, para 57,6%, em 2012, “principalmente na oferta de petróleo e derivados, que passou de 36,7% para 39,2%, entre 2008 e 2012.
“Isso se deve à descoberta das reservas de pré-sal e ao crescimento das vendas dos automóveis”, ressaltou o IBGE. “ A produção de petróleo e gás começa a subir a partir de 2008.O que está crescendo são as outras fontes de energia não-renováveis”, completou Gonçalves.
De acordo com ele, no entanto, as participações totais das não-renováveis estão caindo.
“Petróleo e gás são os que puxam a não-renovável para ampliar a sua participação na matriz energética”, completou o pesquisador.
Consumo energético – O estudo mostrou também que o consumo final de energia per capita cresceu entre 2000 e 2012, com exceção de 2009, e passou de 41,5 gigajoules (GJ) por habitante, em 2000, para 53,3 GJ/habitante em 2012.
“A população cresceu 1,2% ao ano em média, enquanto o consumo de energia exibiu crescimento de 3,3% ao ano”, avaliou o IBGE.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Eduardo Galeano: como funciona a ditadura do consumo

O império do consumo: esta ditadura da uniformização obrigatória impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?
A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar.
A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.
O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.
Gente infeliz os que vivem a comparar-se”, lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. “Quando não tens nada, pensas que não vales nada”, diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: “Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações”.
Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a “obesidade severa” aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado.
O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.
Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que veem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald’s, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.
O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald’s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald’s dispara hambúrgueres às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald’s de Moscou, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.
Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald’s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas em 1998, outros empregados da McDonald’s, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.
As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório.
Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros que este ou aquele banco oferece.
Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.
As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário.
A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes.
As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam veem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios [casebres], a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram.
Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam “porque as pessoas têm o gosto de juntar-se”. Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas?
O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de ônibus e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.
O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante.
A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça.
Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.
A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera.
O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo?
A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta.

A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.