sábado, 7 de abril de 2012

NORDESTE

O Brasil vive anos de otimismo econômico e fez importantes descobertas energéticas, como o Pré-sal, para sustentar seu crescimento. Contudo, o potencial brasileiro vai além. O País é um dos poucos do mundo a possuir, majoritariamente, uma matriz energética limpa e renovável e, agora, investe no potencial eólico. “Esta é a chance de o Nordeste se tornar autossuficiente energeticamente e interiorizar desenvolvimento tecnológico e renda”, observa o governador do Ceará Cid Gomes.
De acordo com levantamentos da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), o potencial eólico brasileiro é estimado hoje em, no mínimo, 143GW – o que equivale à produção de dez usinas de Itapu.
Alguns estados como Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco já se apressam para atrair empresas do setor e surfar na onda do desenvolvimento trazido pelos parques eólicos.
“Com os 18 parques e 69 usinas já contratadas, produziremos 1818MW até 2016. Esse valor atende a todas as demandas de nosso estado e já nos torna autossuficientes em energia”, declara o governador cearense Cid Gomes.
Ao mesmo tempo, o chefe de desenvolvimento econômico da Secretaria de Indústria, Comércio e Minas e Energia (SICM) da Bahia, Paulo Roberto Guimarães, afirma que a energia eólica já representa 15% da matriz energética no estado. “Há cinco anos praticamente não sabíamos o que era energia eólica”, diz.
“O primeiro objetivo é suprir uma região que é carente de energia, depois temos que avançar na criação de empregos com qualificação”, explica Roberto Smith, da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Emprego e qualificação
 A energia eólica também representa uma oportunidade de aproveitar o potencial energético para gerar empregos e criar centros tecnológicos. “O potencial eólico baiano é todo localizado no semi-árido – a região mais carente e de baixo IDH. A energia eólica se coloca como uma oportunidade para desenvolvermos essa região”, afirma Guimarães da SICM.
Por conta disso, o governo baiano prepara junto com agências públicas de fomento, como o BNDES, um pacote de 6,5 bilhões de reais em investimento e isenções fiscais para o setor. Essas medidas já geraram 10 mil empregos diretos e indiretos que foram criados apenas por uma empresa e, pelo menos, 500 empregos diretos na Bahia.
Além disso, os contratos firmados entre as empresas e o estado são estruturados para priorizar a mão-de-obra local – com incentivo a qualificação profissional.
Também está prevista para a segunda quinzena de abril a inauguração de um parque tecnológico voltado para energias renováveis, o que aproximará universidades e centros de pesquisas com empresas do setor.
O mesmo investimento em escolas técnicas e superiores está em curso em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. “O Rio Grande do Norte vai sediar todos os centros de pesquisa do SENAI em energia eólica, com investimento de 25 milhões de reais, previstos para 2012”, diz Flávio José Cavalcanti de Azevedo, presidente da CTGAS.
O primeiro curso superior em energias renováveis já é lecionado no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do estado.
Nacionalização industrial
 Sob a fórmula de aliar incentivo fiscal com centros de tecnologia, o governo parece ter encontrado a forma de nacionalizar e interiorizar o desenvolvimento. “As empresas têm de estar aonde o vento e o sol está. Por isso, criamos condições para que a cadeia produtiva do setor se fixe nestas regiões”, afirma Eduardo Azevedo, secretário de energia de Pernambuco.
Hoje, é uma exigência dos leilões de energia eólica que os parques eólicos tenham 60% de componentes nacionais. Por isso, as parcerias público-privadas em pesquisa vem aumentando no País. “Teremos uma nacionalização de materiais entre 70 e 80% nos próximos anos no Ceará”, diz Marcelo Hulschinski, diretor da empresa Vestas Brazil.
“Estamos trabalhando com a Universidade de Sorocaba e pretendemos colocar algumas instalações de pesquisa e desenvolvimento para estudar a melhor maneira de adaptar os aerogeradores para as condições de vento do Brasil”, diz Rafael Justi, representante da Wobben Windpower.