sábado, 23 de junho de 2012

CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL EM DEFESA DOS BENS COMUNS, CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA. (resumo do documento final).

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos, organizações da sociedade civil e ambientalistas de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.
 A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembleias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.
A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas a partir das resistências e alternativas contra hegemônicas ao sistema capitalista que estão em curso em todos os cantos do planeta. Os processos sociais acumulados pelas organizações e movimentos sociais que convergiram na Cúpula dos Povos apontaram para os seguintes eixos de luta:

 Contra a militarização dos Estados e territórios;
 Contra a criminalização das organizações e movimentos sociais;
 Contra a violência contra as mulheres;
 Contra a violência as lesbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgeneros;
 Contra as grandes corporações;
 Contra a imposição do pagamento de dívidas econômicas injustas e por auditorias populares das mesmas;
 Pela garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural;
 Pela consulta e consentimento livre, prévio e informado, baseado nos princípios da boa fé e do efeito vinculante, conforme a Convenção 169 da OIT;
 Pela soberania alimentar e alimentos sadios, contra agrotóxicos e transgênicos;
 Pela garantia e conquista de direitos;
 Pela solidariedade aos povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou institucionais, como está ocorrendo agora no Paraguai;
 Pela soberania dos povos no controle dos bens comuns, contra as tentativas de mercantilização;
 Pela mudança da matriz e modelo energético vigente; 
 Pela democratização dos meios de comunicação;
 Pelo reconhecimento da dívida histórica social e ecológica;
 Pela construção do DIA MUNDIAL DE GREVE GERAL.

Prêmio Nobel diz que aquecimento é pior do que se imagina. Carlo Rubbia afirma que pessoas não levam questão a sério.

Carlo Rubbia, que partilhou o Prêmio Nobel de Física em 1984, afirmou que o aquecimento global é um problema muito maior do que as pessoas imaginam. Falando na Rio+20, ele disse: “Minha mensagem é que a situação está muito pior do que se vê e se acredita.”
Rubbia mencionou dois “fenômenos contraditórios”: o aquecimento global e o efeito-máscara dos aerossóis, que efetivamente contrabalança os efeitos do aquecimento. Não fosse por isso, a temperatura do planeta teria subido até agora em 3Cº, segundo ele.
“As pessoas nas ruas não percebem os efeitos da mudança do clima” porque nos últimos dez anos a temperatura não aumentou substancialmente. “Por isso, elas acham que a pressão do aquecimento global não é uma realidade.”
Na realidade, há dois fenômenos coexistindo ao mesmo tempo – o aquecimento global, que causa a elevação de temperaturas, e os aerossóis, que reduzem a transparência do ar e portanto reduzem a temperatura, disse Rubia.”Então, temos este equilíbrio instável, um aquecimento que na verdade não vemos por causa de muita poluição produzidas pelos aerossóis, a poeira na atmosfera, e etc.”, afirmou. No entanto, “assim que limparmos o mundo usando menos carros, queimando menos, a extensão plena do aquecimento retornará, e será tarde demais,” ele advertiu.
Rubbia lembrou “uma mudança muito substancial de temperatura” na Europa no verão de 2003, que depois desapareceu.
Todos os grandes emissores de gases estufa concordaram no acordo de Copenhague que a temperatura global média não deve se elevar acima dos 2Cº. Hoje, a temperatura do planeta é apenas 0.75Cº mais alta que no passado, mas na realidade podia ter subido em três graus se não fosse o efeito máscara que cancela os efeitos do aquecimento.
Como resultado, as pessoas não estão levando a coisa “suficientemente a sério” porque a situação se tornou muito mais complicada e não tão óbvia como “um sim ou não”, afirmou ele.
Rubbia também manifestou preocupações sobre uma tendência em muitos países de usar cada vez mais carvão como fonte primária de energia. Alemanha e outros países europeus, por exemplo, estão aumentando seu consumo de carvão porque querem suprimir o uso de energia nuclear. Esta tendência também se verifica no Japão. “Há mais carvão, e isto significa mais CO2. Estamos no processo em que as emissões de CO2 não tendem a se estabilizar, mas a acelerar.”

terça-feira, 19 de junho de 2012

Análise: Por que é tão difícil se chegar a acordos internacionais?

Diretrizes a serem aprovadas na Rio+20 se baseiam na construção de consensos entre os países participantes. Parece algo democrático, mas não é. Ao contornar diferenças e arestas, os consensos se mostram inócuos e dão margem a que os mais fortes imponham suas vontades sobre os demais.
 Após meses de negociações, foi finalmente acordado por consenso o documento base a ser ratificado pelos chefes de Estado reunidos na Rio+20. Tem 49 páginas e deixou para trás inúmeros pontos polêmicos sobre prazos, restrições, normas de conduta e penalidades para os que não aderirem ao pacto ambiental a ser firmado na capital carioca.

Em outras palavras, ao que tudo indica, o fato positivo reside no fato em si de existir um documento. Sua construção é vaga o suficiente para contornar arestas, evitar conflitos, contentar a todos e – por conseguinte – ser inócuo.

É raro serem aprovados acordos entre Estados soberanos que escapem ao senso comum. As dificuldades estão não apenas nas visões e enfoques de governos de diversas orientações. Os limites de tais tratados residem também na maior ou menor capacidade desses Estados exercerem sua soberania interna. Ou seja, um tratado internacional, a princípio, não pode violar o poder público de cada país.

Consensos e dissensos
O método de aprovação de documentos como o rascunho da Rio+20 parte de um princípio que parece democrático, mas não é. Trata-se da ideia de se “construir consensos”.

Democracia não é consenso. Democracia é conflito e decisão de maioria, desde a Grécia antiga. A decorrência da adoção de tal primado é a subordinação da minoria à maioria, respeitando direitos de manifestação de todos. É algo imperfeito, mas até agora não se encontrou maneira mais racional de se tomarem decisões coletivas.

O consenso, ao contrário, é antidemocrático e ineficiente.

É antidemocrático por ter como meta a eliminação das diferenças. A diversidade passa a ser vista não como valor a ser preservado, mas como fator nocivo ao entendimento.

O consenso pode ser obtido de duas maneiras. A primeira é através da supremacia ou da hegemonia de um ou mais membros de determinado coletivo. Assim se deu na assinatura do Consenso de Washigton, em 1989. Nada havia de democrático ali. Os Estados Unidos, valendo-se de seu poder econômico – potencializado pelo fato de serem os emissores da moeda internacional – e das pressões que é capaz de exercer em todas as esferas das relações internacionais, impuseram um duro receituário aos países da periferia.

A outra forma de se obter consensos reside em se chegar a diretrizes desidratadas de quaisquer ímpetos transformadores, que podem ser aceitos por todos. Não produzem, em geral, efeito algum.

Os pontos de conflito são excluídos de qualquer entendimento coletivo. Um único agente tem a prerrogativa de discordar de uma posição majoritária e inviabilizar um pacto comum. Além disso, temas que ficarem de fora do acertado podem ser encaminhados livremente por qualquer um, sem que tal ação seja vista como desrespeito à maioria. O consenso é contra votação ou deliberação democrática.

Anarquia internacional
O sistema internacional não é democrático. Faltam regras e normas disciplinadoras. Vigora a anarquia, que não quer dizer bagunça, mas ausência de governo.

Assim, quaisquer deliberações entre Estados, tomadas no âmbito da Organização das Nações Unidas ou de grupos de países como o G-20, G-77, OMC, União Europeia, Mercosul e outros não têm força de algo que se assemelhe à lei ou normas legais. O que se firma são acordos, tratados, protocolos e pactos específicos.

As sanções possíveis para países que desrespeitem partes ou o todo de tais contratos não estão escritas em nenhuma regra geral, pois inexiste uma Constituição Universal. As penalidades se inscrevem no corpo dos próprios acertos.

Em casos como a OMC, o país que não seguir orientações acordadas pode se ver excluído dos fluxos internacionais de transações da própria organização. A Declaração Universal dos Direitos Humanos é apenas isso, uma declaração.

O fator determinante a estabelecer punições é a hierarquia entre países, um eufemismo para designar a correlação de forças internacional. As invasões de países como Afeganistão, Iraque e Líbia não obedeceram quaisquer contratos internacionais, mas a lei do mais forte ou a recorrente lógica imperial.

Racionalidade e previsibilidade
A criação de organismos multilaterais ao longo das últimas décadas – ONU à frente – faz parte de esforços para se dotar as relações internacionais de um mínimo de racionalidade e previsibilidade. A ONU, como se sabe, é fruto da correlação de forças existente na arena mundial ao fim da II Guerra Mundial.

O poder maior estava com os Estados Unidos, que legitimaram a constituição de um Conselho de Segurança, composto atualmente por 15 países, cinco deles (EUA, Inglaterra, França, Rússia e China) com poder de veto sobre decisões de maioria.

Interferências no mercado
Nesse quadro é que se balizam as tentativas de se produzirem acordos na Rio+20. Diretrizes sobre o aquecimento global, a emissão de gases, a proteção ecológica implicam o estabelecimento de limites para agressões ao meio ambiente e mudanças em padrões de produção e consumo.

A prioridade dada ao transporte individual, por exemplo, entra em choque direto com políticas de mobilidade urbana eficientes e não poluentes.

Regras desse tipo interferem na economia de mercado, acarretando custos e restrições à busca incessante de lucros por parte das grandes corporações mundiais. Há fortes oposições a alternativas como essas.

É possível chegarmos a uma situação em que os interesses das maiorias prevaleçam sobre os das minorias econômicas? Sim, é. Mas sua materialização dependerá não apenas da construção de uma nova correlação de forças internacional, mas especialmente em saber que vários interesses serão prejudicados.

Decisões assim não serão fruto de consensos. Serão resultado de uma dura batalha democrática para saber quem pagará a conta da proteção ambiental.

Enquanto isso lá se vão 40 anos (Estocolmo 1972) de debates e tentativas de negociações...será que agora sai algum consenso?

O que está em jogo na Rio+20.





Maior encontro da história da ONU, a Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, retoma aquilo que começou a ser debatido há 40 anos em Estocolmo 72 e há 20 na, na Eco-92.






As novidades são um planeta mais rápido graças à internet e mais bem informado sobre os limites do atual modelo econômico graças ao avanço das pesquisas e da inovação. A falta de novidades é a dificuldade em encontrar um consenso global e a resistência de algumas nações a aceitarem acordos de efeito real. A iniciativa do governo brasileiro de promover um novo encontro que delineasse os caminhos para um desenvolvimento calcado em respeito aos direitos sociais e ambientais foi apresentada em 2007. De lá para cá, alguma coisa mudou: em crise, as nações ricas resistem ainda mais à assinatura de termos que coloquem limites ao velho crescimento econômico capitalista.

Organização das Nações Unidas (ONU) dividiu o debate em dois eixos: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. Também escolheu sete temas críticos: emprego, energia, cidades, alimentação, água, oceanos e desastres.

Abaixo, algumas das questões que estarão em debate nos próximos dias.

Economia verde. De um lado, a ONU e uma parte dos países advogam que o mundo tem de caminhar em direção à economia verde, que seria um modelo que contemplaria, além do capital, as questões sociais e ambientais. Por parte das organizações da sociedade e de especialistas, há divisão quanto à expressão. Alguns consideram que se trata simplesmente de uma maneira de maquiar as mazelas do atual sistema capitalista mediante práticas aparentemente sustentáveis, mas que simplesmente avançam em direção a um “ambientalismo de mercado”. Outros acreditam que falta deixar mais claro de que se trata a economia verde, mas um compromisso mais efetivo esbarra na reticência de algumas nações ricas.

Pnuma – O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente parece ser ponto de consenso na conferência: ganhará novo status. Deve passar de um programa a uma agência especializada nos moldes de outras já existentes em áreas como comércio e segurança. "A maioria dos países deu sinal de que a criação de uma agência especializada para o meio ambiente é justificável e é por isso que acredito que essa discussão é legítima e séria. Por que não dar para a agenda ambiental a mesma autoridade de governança que é dada para as agências de turismo, navegação, saúde e cultura, por exemplo?", afirmou recentemente o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner. Atualmente, o Pnuma tem orçamento voluntário estimado em US$ 80 milhões ao ano, com contribuição de 58 países.

PIB – Avançou o consenso de que a medida de toda a riqueza de uma nação não é suficiente para mensurar avanços. Pelos parâmetros de desenvolvimento sustentável, fica mais claro que riqueza não significa bem-estar. O PIB foi claramente delineado sem a intenção de calcular desenvolvimento, e exclusivamente consumo e produção. Quem está no trânsito de São Paulo, por exemplo, está produzindo riqueza à medida que gasta gasolina, mas não está a contribuir para o ambiente e menos ainda para o bem-estar social. A contrapartida, segundo especialistas, seria a criação de um outro modelo de medidor que leve em consideração o desenvolvimento sustentável dos países. Há quem defenda a mudança para uma ferramente baseada no PIB, mas leve em conta o Índice de Gini, que calcula a desigualdade da distribuição de renda, e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países. Também pode ser proposto e debatido o Índice de Felicidade da População de uma região ou país.

Revolução Verde – Após quatro décadas de um modelo agrícola que privilegiou a produtividade, movimentos sociais querem propor que a Rio+20 vá adiante na Revolução Sempre Verde, uma contraposição à Revolução Verde, responsável pelo uso massivo de agrotóxicos, pela concentração de terras e, mais recentemente, pela concentração de sementes geneticamente modificadas nas mãos de poucas empresas, que cobram direitos de propriedade cada vez mais altos. Agora, na opinião de entidades da sociedade civil, é hora de valorizar a agroecologia, que produz alimentos com respeito ao meio ambiente, pensando nas reais necessidades de consumo e em unidades menores, criando empregos e evitando o êxodo rural.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - O documento anterior apontava que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) deveriam ser baseados na Agenda 21 e no Plano de Implementação de Joanesburgo, respeitando os Princípios do Rio, em particular as responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Agora, o novo documento fala que os ODS devem ser criados “levando em conta as diferentes circunstâncias, capacidades e prioridades nacionais”, ou seja, reconhece as particularidades de cada país. Em seguida, o texto estabelece que, a partir da conferência, será criado um processo intergovernamental para desenvolver os objetivos globais. Com isso, seria criada uma comissão de coordenação para elaborar os objetivos até setembro de 2012, que terá um ano (até setembro de 2013) para apresentar uma proposta. O prazo estipulado para que os Objetivos entrem em vigor é a partir de 2015. 

O documento aponta ainda que os ODS devem levar em conta metas e indicadores para que cada país possa adaptá-los a sua realidade e níveis de desenvolvimento.

domingo, 17 de junho de 2012

ATENÇÃO PESSOAL........

OI PESSOAL, NOS PRÓXIMOS DIAS ESTAREI POSTANDO ARTIGOS E DEBATES SOBRE A CÚPULA DOS POVOS (15 a 23 de junho) E RIO +20 (20 a 22 de junho).
NÃO DEIXEM DE SEGUIR E COMENTAR, ABRAÇOS Cássio.

Movimentos sociais e organizações debatem os malefícios dos agrotóxicos.

A Via Campesina, em sua primeira atividade na Cúpula dos Povos, debateu a questão dos agrotóxicos no campo, em conjunto com outras organizações, como os Amigos da Terra e a Abrasc o e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Participaram do debate Cláudia Gerônimo, dos Amigos da Terra da Guatemala, Cléber Folgado, membro da Via Campesina e coordenador nacional da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e pela Vida, Fábia Londres, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e Lia Giraldo, da Fiocruz.

Segundo Cláudia, na Guatemala, assim como no Brasil, os produtores são incentivados pelo governo a utilizar agrotóxicos. “Fiquei perplexa com o fato de que não há incentivo à outra alternativa para produzir. Acredito que devemos adotar o modelo agroecológico, que para mim deve ser amigável ao meio ambiente, sem uso de venenos e resgatando conhecimentos ancestrais de produção. Ao ver que os agricultores são forçados a usar agrotóxicos, sinto que nossos conhecimentos estão sendo tolhidos”.

Cléber, por sua vez, contextualizou o surgimento dos agrotóxicos. “O agrotóxico surgiu como resto da segunda guerra mundial, para resolver os problemas das indústrias bélicas, adaptando o uso de venenos à agricultura, e os governos tiveram um papel fundamental nisso. Por isso os agrotóxicos nunca podem ser chamados de ‘defensivos agrícolas’. As formas que o capitalismo encontra para resolver suas crises é fazer guerra e se apropriar dos bens naturais”.

Exemplo do papel do governo brasileiro no incentivo ao agrotóxico é o crédito agrícola. “Os camponeses na década de 60 tinham que pegar o agrotóxico para receber o crédito. Como é hoje? A mesma coisa”, enfatiza Cléber. O membro da Via Campesina desmentiu vários argumentos muito usados pelo agronegócio e os setores que o apoiam.

O primeiro ‘mito’ é que há formas seguras de usar agrotóxicos. “Há técnicas e proteções que evitam intoxicações agudas, mas a intoxicação ainda acontece. Também é mentira que ‘não podemos produzir com veneno, pois o preço da comida sobe’, pois quem produz 70% da comida neste país é a agricultura familiar”. O argumento de que O camponês também usa veneno é contestado. “É claro que usa, estão obrigados por conta do crédito agrícola. No entanto, o Censo diz que o agronegócio usa 80% de agrotóxicos, e os camponeses, 30%”. Por fim, a questão da Balança comercial, cujo agronegócio é responsável por 30% do PIB, o que corresponde à 151 bilhões de reais. “Para produzir isso, os latifundiários pegam do orçamento público 110 bilhões. Coloca esse dinheiro nas mãos dos camponeses para ver o que fazemos. O agronegócio é economicamente impotente, além dos custos ambientais, que ninguém calcula”.

Cléber também fez um balanço da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. “A Campanha não trouxe nenhuma novidade, pois desde que o agrotóxico existe há lutas contra ele. O mérito da Campanha está emsomar as forças das pessoas que lutam contra os agrotóxicos, para fortificar essa luta, denunciando à sociedade os problemas causados pelo agronegócio. Estamos obtendo resultados, como levar pautas referentes ao tema à mídia burguesa, e a Presidenta Dilma garantiu queira criar um grupo de Política Nacional de Enfrentamento ao Agrotóxico, mas ainda não está nada assinado por ela, então a pressão vai continuar”.

Fábia apontou que a Campanha contra os agrotóxicos é a culminância de trabalhos que vem sendo desenvolvidos a anos por pesquisadores, ONGs e movimentos sociais. “A Campanha foi um acerto político, pois é absolutamente insustentável sermos o primeiro maior consumidor de agrotóxicos no mundo, e a sociedade não pode ficar alheia mais a essa questão”. Ela também reforçou o papel da agroecologia como modelo de desenvolvimento alternativo. “Na Rio92, a agroecologia era apenas uma aposta incerta; hoje,há milhares de experiências de sucesso, com relatórios de organizações como a FAO reconhecendo a importância do modelo para a erradicação da fome”.

Apesar do papel da agroecologia estar reconhecido, é necessário que haja políticas públicas para incentivá-la. Nesse sentido, Flávia denuncia que “está prometido para sair na Rio+20 uma Política Nacional de Agroecologia. No entanto, estamos tendo sinais de que a promessa pode não ser cumprida na Cúpula”.

Dossiê Abrasco – O debate de hoje foi marcado também pelo lançamento da segunda parte do dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) sobre agrotóxicos. De acordo com Lia, a problemática dos agrotóxicos atravessa todos os segmentos da vida, e não só o campo. Por isso, essa deve ser uma luta da sociedade. “Os inseticidas, que usamos nas cidades para nos proteger de mosquitos, contém as mesmas substâncias que muitos agrotóxicos, mas são vendidos como algo ‘limpo’ para a população”.

O dossiê, segundo Lia, indaga como a sociedade brasileira chegou ao ponto de maior consumidora de agrotóxicos, além de mostrar como o agronegócio depende da aplicação de venenos para continuar crescendo. “O desenvolvimento agrário com acumulação de capital está casado de forma indissociável no país com a utilização de agrotóxicos

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cúpula dos Povos: roteiro para a soberania alimentar.

A soberania alimentar é o tema de uma das plenárias de convergência da Cúpula dos Povos, evento paralelo a Rio + 20 que será realizado entre 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo. O engenheiro agrônomo Horacio Martins vê a retomada da agricultura familiar como ponto crucial para a reversão da atual ordem mundial, onde cerca de 12 grupos multinacionais controlam o mercado, manipulando formas de produção e especulando preços. “A agricultura passou a ser um dos maiores negócios do mundo", diz.

 A soberania alimentar é o tema de uma das plenárias de convergência da Cúpula dos Povos, evento paralelo a Rio + 20 que será realizado entre 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo. Na dinâmica do evento, os resultados das plenárias de convergência serão encaminhados para a Assembleia dos Povos, que nos últimos três dias da cúpula definirá as agendas e lutas para o período pós Rio+20.
A partir do conceito de soberania alimentar como “o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, advindos do direito de decidir o próprio sistema alimentar e produtivo”, definido pela Via Campesina em 1996, durante a Cúpula Mundial sobre Alimentação da agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o engenheiro agrônomo Horacio Martins vê a retomada da agricultura familiar como ponto crucial para a reversão da atual ordem mundial, onde cerca de 12 grupos multinacionais controlam o mercado, manipulando formas de produção e especulando preços.
“A agricultura passou a ser um dos maiores negócios do mundo. O volume financeiro no comércio de alimentos processados entre 2010/11 foi de US$ 3,5 trilhões”, afirma o membro da Associação Brasileira de Reforma Agrária. “Não é mais o custo de produção que determina o preço. O preço é determinado fora. A Bolsa de Chicago movimenta financeiramente em um ano o equivalente a 46 vezes a produção mundial de trigo, e 24 vezes a de milho”, exemplifica Martins.
Novo campesinato
Segundo o agrônomo, o processo de construção da soberania alimentar recai em alguns lugares comuns. O primeiro é a necessidade de uma reforma agrária ampla, ligada a uma soberania nacional e popular, para que “não o mercado decida o que nós devemos comer, mas sim uma política nacional de alimentação que acabe com a tirania da dieta alimentar definida pelas multinacionais a partir dos produtos agrícolas rentáveis”.
Martins é taxativo. “Precisamos criar camponeses!”, e propõe um novo olhar sobre esse campo. “O camponês como modo de produção e como classe social. Ele tem uma especificidade que não é nem o produtor simples de mercadoria, nem a pequena burguesia, mas uma nova abordagem da questão camponesa, Ele e o trabalho da terra com sua família, uma família moderna, contemporânea, estudando”, diz.
Para o trabalho da terra desembocar na mesa de jantar sem especulação, a retomada dos circuitos curtos de mercado é o caminho ideal, na visão do agrônomo. “Só equaciono a soberania alimentar com a oferta de alimentos sadios nos mercados locais e produção regional, contra as ‘mercadorias de não lugar’”, afirma, pontificando que esse cenário representa “o processo de desconcentração e democratização do uso da terra e da oferta de serviços”.
Tecnologia
Para Martins, outra vantagem desse modelo seria forjar um novo padrão tecnológico, a partir da agroecologia para o pequeno. “Se agrotóxicos, fertilizantes e sementes estão na mão das multinacionais, o padrão é dado de fora para dentro. E nossas políticas públicas e empresas de pesquisas passam a ser determinadas por esse grande mercado, sem emancipação e liberdade”, diz ele.