A
superfície da Terra ficou 1,5ºC mais quente nos últimos 250 anos e o aumento de
temperatura se deve quase inteiramente ao homem, revela um estudo científico. O
estudo foi feito para analisar as dúvidas dos céticos climáticos que questionam
a afirmação de que o aquecimento global induzido pelo homem está ocorrendo.
O
professor Richard Muller, físico e cético das mudanças climáticas que fundou o
projeto Berkeley da Temperatura da Superfície Terrestre (Best, na sigla em
inglês), disse ter ficado surpreso com as descobertas.
“Não
esperávamos isso, mas, como cientistas, é nosso dever deixar que as evidências
mudem nossas opiniões.” Ele acrescentou que agora se considera um “cético
convertido” e que suas opiniões sofreram uma “reviravolta total” em um prazo
curto de tempo.
“Nossos
resultados mostram que a temperatura média da superfície da Terra subiu 2,5ºF
nos últimos 250 anos, incluindo uma elevação de 1,5ºC ao longo dos últimos 50
anos. Ademais, parece provável que toda essa elevação tenha resultado por causa
das emissões humanas de gases estufa”, escreveu Muller em artigo para o “New
York Times”.
A equipe
de cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley colheu e fundiu 1,4
milhão de observações de temperatura terrestre de 44.455 locais em todo o
mundo, datadas de a partir de 1753.
Os
conjuntos anteriores de dados criados pela Nasa, a Administração Oceânica e
Atmosférica Nacional dos EUA, o Escritório Meteorológico britânico e a unidade
de pesquisas climáticas da Universidade de East Anglia vinham desde apenas
meados do século 19 e eram baseados em um quinto da quantidade de registros de
estações meteorológicas.
O
financiamento do projeto incluiu US$ 150 mil da Fundação Beneficente Charles G.
Koch, criada pelo bilionário magnata americano do carvão Charles Koch, que é um
dos apoiadores principais do “think tank” Instituto Heartland, cético das
mudanças climáticas. A pesquisa também recebeu US$ 100 mil do Fundo para
Pesquisas Climáticas e Energéticas Inovadoras, criado por Bill Gates.
Diferentemente
de esforços anteriores, os dados de temperatura obtidos de fontes diversos não
foram homogeneizados à mão, algo que tinha suscitado uma das críticas
principais dos céticos climáticos. Ao invés disso, a análise estatística foi
“completamente automatizada para reduzir o viés humano”. A equipe do Best
concluiu que, apesar de sua análise mais profunda, suas conclusões
corresponderam de perto às reconstruções anteriores da temperatura, “só que com
incerteza reduzida”.
Em
outubro passado a equipe do Best publicou resultados indicando que temperatura
terrestre global média subiu cerca de 1ºC desde meados da década de 1950. Mas a
equipe não procurou possíveis impressões digitais que explicassem esse
aquecimento.
A análise
mais recente chegou a um passado muito mais distante, mas, crucialmente, também
procurou a mais provável causa da elevação da temperatura. Ela analisou o
impacto aquecedor da atividade solar – uma teoria popular entre os céticos
climáticos -, mas constatou que, nos últimos 250 anos, a contribuição do Sol
tem “correspondido a zero”.
Constatou-se
que erupções vulcânicas provocaram quedas curtas na alta da temperatura no
período de 1750-1850, mas “apenas análogos fracos” no século 20.
“Para
minha grande surpresa, de longe a melhor correspondência foi com o registro do
dióxido carbônico atmosférico, medido em amostras atmosféricas e em ar preso no
gelo polar”, disse Muller. “Embora isto não comprove que o aquecimento global
seja causado por gases estufa emitidos pelo homem, neste momento essa é a
melhor explicação que encontramos. Outras teorias alternativas terão que
superar esta explicação.”
“Transparência total” –
Muller disse que as conclusões de sua equipe vão mais longe e são mais
fundamentadas que o relatório mais recente lançado pelo Painel
Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas.
Numa
iniciativa não convencional que visa apaziguar os céticos climáticos, pelo fato
de permitir “transparência total”, os resultados foram divulgados publicamente
pelo “Journal of Geophysical Research” antes de serem submetidos a uma revisão
por pares.
Todos os
dados e análises se encontram no site da Best, onde podem ser estudados
livremente. Isso segue o padrão adotado por resultados anteriores obtidos pelo
Best, nenhum dos quais até agora foi publicado em periódicos submetidos a
revisão por pares.
Quando o
projeto Best foi anunciado, no ano passado, o conhecido blogueiro cético
climático Anthony Watts foi consultado sobre a metodologia. Ele declarou na
época: “Estou disposto a aceitar qualquer resultado que eles produzirem, mesmo
que ele desminta minhas premissas”. Desde então, contudo, surgiram tensões
entre Watts e Muller.
Os
primeiros indicativos sugerem que é pouco provável que os céticos climáticos
aceitem plenamente os resultados mais recentes do Best. A professora Judith
Curry, climatologista do Instituto Georgia de Tecnologia, diretora de um blog
popular entre céticos climáticos e membro consultivo da equipe Best, disse ao
“Guardian” que o método usado para atribuir o aquecimento às emissões humanas
foi “simplista e nada convincente, em minha opinião”.
Ela
acrescentou: “Não creio que esta pergunta possa ser respondida com as curvas
simples usadas neste artigo, e não creio que o artigo acrescente qualquer coisa
à nossa compreensão das causas do aquecimento recente”.
“Bastão de hóquei” - O
professor Michael Mann, paleoclimatologista da Universidade Penn State que vem
enfrentando hostilidade de céticos climáticos por seu famoso gráfico do “bastão
de hóquei”, mostrando uma elevação rápida das temperaturas no século 20, disse
que saúda os resultados do Best, já que “demonstram de novo algo que os
cientistas sabem com algum grau de certeza há quase duas décadas”.
Ele
acrescentou: “Aplaudo Muller e seus colegas por agirem como agiria qualquer
cientista digno, seguindo o rumo indicado por suas análises, sem levar em conta
possíveis repercussões políticas. Em função do que descobriram, eles certamente
serão criticados pela turma dos negadores profissionais das mudanças
climáticas.”
Muller
disse que a análise de sua equipe sugere que a temperatura da superfície
terrestre vai subir 1,5ºC nos próximos 50 anos, mas que, se a China continuar
com seu crescimento econômico acelerado e seu consumo enorme de carvão, o mesmo
aquecimento poderá ocorrer em menos de 20 anos.
“A
ciência é aquele campo estreito de conhecimento que, em princípio, é
universalmente aceito”, escreveu Muller. “Iniciei esta análise para encontrar
respostas a perguntas que, a meu ver, não tinham sido respondidas ainda”,
disse.
“Espero
que a análise Berkeley Earth ajude a resolver as divergências científicas com
relação ao aquecimento global e suas causas humanas. A parte difícil virá em
seguida: chegar a um acordo, envolvendo todo o espectro político e diplomático,
sobre o que pode e deve ser feito.” (Fonte: ambiente sustentável)
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