Segundo Cláudia, na Guatemala, assim como no
Brasil, os produtores são incentivados pelo governo a utilizar agrotóxicos.
“Fiquei perplexa com o fato de que não há incentivo à outra alternativa para
produzir. Acredito que devemos adotar o modelo agroecológico, que para mim deve
ser amigável ao meio ambiente, sem uso de venenos e resgatando conhecimentos
ancestrais de produção. Ao ver que os agricultores são forçados a usar
agrotóxicos, sinto que nossos conhecimentos estão sendo tolhidos”.
Cléber, por sua vez, contextualizou o surgimento
dos agrotóxicos. “O agrotóxico surgiu como resto da segunda guerra mundial,
para resolver os problemas das indústrias bélicas, adaptando o uso de venenos à
agricultura, e os governos tiveram um papel fundamental nisso. Por isso os
agrotóxicos nunca podem ser chamados de ‘defensivos agrícolas’. As formas que o
capitalismo encontra para resolver suas crises é fazer guerra e se apropriar
dos bens naturais”.
Exemplo do papel do governo brasileiro no
incentivo ao agrotóxico é o crédito agrícola. “Os camponeses na década de 60
tinham que pegar o agrotóxico para receber o crédito. Como é hoje? A mesma coisa”,
enfatiza Cléber. O membro da Via Campesina desmentiu vários argumentos muito
usados pelo agronegócio e os setores que o apoiam.
O primeiro ‘mito’ é que há formas seguras de usar
agrotóxicos. “Há técnicas e proteções que evitam intoxicações agudas, mas a
intoxicação ainda acontece. Também é mentira que ‘não podemos produzir com
veneno, pois o preço da comida sobe’, pois quem produz 70% da comida neste país
é a agricultura familiar”. O argumento de que O camponês também usa veneno é
contestado. “É claro que usa, estão obrigados por conta do crédito agrícola. No
entanto, o Censo diz que o agronegócio usa 80% de agrotóxicos, e os camponeses,
30%”. Por fim, a questão da Balança comercial, cujo agronegócio é responsável
por 30% do PIB, o que corresponde à 151 bilhões de reais. “Para produzir isso,
os latifundiários pegam do orçamento público 110 bilhões. Coloca esse dinheiro
nas mãos dos camponeses para ver o que fazemos. O agronegócio é economicamente
impotente, além dos custos ambientais, que ninguém calcula”.
Cléber também fez um balanço da Campanha
Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. “A Campanha não trouxe nenhuma
novidade, pois desde que o agrotóxico existe há lutas contra ele. O mérito da
Campanha está emsomar as forças das pessoas que lutam contra os agrotóxicos,
para fortificar essa luta, denunciando à sociedade os problemas causados pelo
agronegócio. Estamos obtendo resultados, como levar pautas referentes ao tema à
mídia burguesa, e a Presidenta Dilma garantiu queira criar um grupo de Política
Nacional de Enfrentamento ao Agrotóxico, mas ainda não está nada assinado por
ela, então a pressão vai continuar”.
Fábia apontou que a Campanha contra os
agrotóxicos é a culminância de trabalhos que vem sendo desenvolvidos a anos por
pesquisadores, ONGs e movimentos sociais. “A Campanha foi um acerto político,
pois é absolutamente insustentável sermos o primeiro maior consumidor de
agrotóxicos no mundo, e a sociedade não pode ficar alheia mais a essa questão”.
Ela também reforçou o papel da agroecologia como modelo de desenvolvimento
alternativo. “Na Rio92, a agroecologia era apenas uma aposta incerta; hoje,há
milhares de experiências de sucesso, com relatórios de organizações como a FAO
reconhecendo a importância do modelo para a erradicação da fome”.
Apesar do papel da agroecologia estar
reconhecido, é necessário que haja políticas públicas para incentivá-la. Nesse
sentido, Flávia denuncia que “está prometido para sair na Rio+20 uma Política
Nacional de Agroecologia. No entanto, estamos tendo sinais de que a promessa
pode não ser cumprida na Cúpula”.
Dossiê Abrasco – O debate de
hoje foi marcado também pelo lançamento da segunda parte do dossiê da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) sobre agrotóxicos. De acordo
com Lia, a problemática dos agrotóxicos atravessa todos os segmentos da vida, e
não só o campo. Por isso, essa deve ser uma luta da sociedade. “Os inseticidas,
que usamos nas cidades para nos proteger de mosquitos, contém as mesmas
substâncias que muitos agrotóxicos, mas são vendidos como algo ‘limpo’ para a
população”.
O dossiê, segundo Lia, indaga como a sociedade
brasileira chegou ao ponto de maior consumidora de agrotóxicos, além de mostrar
como o agronegócio depende da aplicação de venenos para continuar crescendo. “O
desenvolvimento agrário com acumulação de capital está casado de forma
indissociável no país com a utilização de agrotóxicos
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