“Louvado seja, sobre o
cuidado da casa de todos nós”. É o título da Encíclica recém publicada do Papa
Francisco sobre o meio ambiente. O ponto central? “A Terra está ferida, é
necessária uma conversão ecológica”. Poluir, contribuir para o aquecimento
global, para a desflorestação é – no fundo – um pecado.
Trata-se
de uma encíclica para todos, não apenas para os cristãos. Com ela Francisco
lavra mais um tento na sua já longa lista de intervenções fundamentais sobre os
problemas do mundo contemporâneo. Pela primeira vez a Igreja publica um
documento oficial sobre questões do meio ambiente e da sua salvaguarda.
Um
chamado à responsabilidade, com base na tarefa que Deus deu aos seres humanos
“criar e manter o jardim”. O Papa pede claramente uma mudança radical no
consumo do planeta encontrando ao centro do “Louvado seja” esta pergunta: “Que
tipo de mundo queremos passar para aqueles que virão depois de nós, para as
crianças que agora estão crescendo?”
A Encíclica delineia um
percurso histórico preciso, que leva a atenção do mundo à importância de ter no
coração o futuro do Planeta Terra.
1
. A crise ambiental corresponde a crise social
Para
o Papa, as razões pelas quais um lugar é poluído exige uma análise do
funcionamento da sociedade, a sua economia, o seu comportamento, suas formas de
compreensão da realidade. Dada a magnitude das mudanças, não é mais possível
encontrar uma resposta específica e independente para cada parte individual do
problema.
É
essencial procurar soluções abrangentes, que considerem a interação dos
sistemas naturais uns com os outros, juntamente com os sistemas sociais. “Há
duas crise separadas, um problema ambiental e outro social, mas uma única e
complexa crise sócio-ambiental. As orientações para a solução exige uma
abordagem abrangente para combater a pobreza, para restaurar a dignidade aos
excluídos e ao mesmo tempo para cuidar da natureza”, diz o texto.
2.
Não à poluição, ao lixo e à cultura do desperdício.
A
cultura do desperdício é prejudicial aos seres humanos excluídos, porque as
coisas se transformam rapidamente em lixo. Papa Francisco explica:
“Perceba, por exemplo,
que a maior parte do papel que é produzido é jogado fora e não reciclado. Quase
não reconhecemos que o funcionamento dos ecossistemas naturais é exemplar: As
plantas sintetizam nutrientes que alimentam os herbívoros, e estes, por sua vez
alimenta os carnívoros, que fornecem quantidades importantes de resíduos
orgânicos, o que dá origem a uma nova geração de plantas. Em contraste, o
sistema industrial, no final do ciclo de produção e consumo, não desenvolveu a
capacidade de absorver e reutilizar o desperdício e o dejeto. Ele ainda não
conseguiu adotar um padrão circular de produção para garantir recursos para
todos e para as futuras gerações, o que nos obriga a limitar o uso dos recursos
não-renováveis, moderar o consumo, reutilizar e reciclar. A resolução desta
questão seria uma maneira de combater a cultura do desperdício que acaba
prejudicando todo o planeta, mas vemos que os progressos nessa direção ainda
são muito limitados.”
3.
As mudanças climáticas dependem do homem
O
ponto de partida consiste de uma escuta espiritual dos melhores resultados
científicos disponíveis hoje sobre o meio ambiente, para se deixar tocar
profundamente e dar uma base concreta para o caminho ético e espiritual que
segue. “A ciência é o instrumento-chave através do qual podemos ouvir o grito
da Terra. Na perspectiva da Encíclica – e da Igreja – é suficiente que a
atividade humana é um dos fatores que explicam a mudança climática, pois
resulta em uma grave responsabilidade moral de fazer tudo o que pudermos para
reduzir o nosso impacto e para evitar os efeitos negativos sobre o meio
ambiente e os pobres.
“O
clima é um bem comum de todos e para todos. Ele, no nível mundial, é um sistema
complexo em relação a muitas condições essenciais para a vida humana. Há um
consenso científico muito significativo que indica que estamos testemunhando um
preocupante aquecimento do sistema climático. A humanidade é chamada a
tornar-se consciente da necessidade de mudar de vida, da produção e do consumo,
para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem
ou o acentuem”, escreve o Papa.
4.
Abraçar o decrescimento
“É
hora de aceitar uma certa diminuição em algumas partes do mundo procurando
recursos para que possamos crescer de forma saudável em outras partes. Sabemos
que é insustentável o comportamento de quem consome e destrói mais e mais,
enquanto outros não conseguem viver em conformidade com a sua dignidade humana.
Portanto, é hora de aceitar um determinado decrescimento”, disse Bergoglio.
“O
que está acontecendo nos faz enfrentar a necessidade urgente de proceder a uma
revolução cultural corajosa. A ciência e a tecnologia não são neutras, mas
podem implicar do começo ao fim em um processo diferente de intenções e
possibilidades, e podem se configurar de várias maneiras. Ninguém quer voltar
para a caverna, mas é essencial retardar a marcha para ver a realidade de outra
maneira, acolher os desenvolvimentos positivos e sustentáveis e, ao mesmo tempo
recuperar os grandes valores e propósitos destruídos por uma megalomania
desenfreada”.
5.
Atenção ao OMG e à vivissecção
O
Papa observou como em muitas áreas, em decorrência da introdução de organismos
geneticamente modificados (OGM), plantas ou animais, viu-se uma concentração de
terras produtivas nas mãos de poucos, devido ao “desaparecimento gradual dos
pequenos produtores, que, como resultado perderam suas terras cultivadas e
foram forçados a abandonar a produção direta”.
A
propagação destas culturas destrói a teia complexa de ecossistemas, diminui a
diversidade da produção e afeta o presente e o futuro das economias regionais.
Em vários países existe uma tendência no desenvolvimento de oligopólios na
produção de sementes e de outros produtos necessários para o cultivo, e a
dependência se aprofunda quando se considera a produção de sementes estéreis,
que acabaria forçando os agricultores a comprar dos produtores.
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