O IBGE lançou nesta
sexta-feira (19/06) um extenso relatório com 63 indicadores, incluindo várias
séries históricas, que traçam um panorama da sustentabilidade da forma de
desenvolvimento do Brasil.
A 6ª edição dos
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) Brasil 2015 mostra que o país
está avançando em diversas áreas ambientais, sociais e econômicas, mas tem
muito por avançar em outras.
A proporção do uso de
energia não-renovável, por exemplo, aparece em queda no relatório do IBGE,
enquanto o consumo de energia em geral cresce mais rapidamente que a população.
O desmatamento da Amazônia tem diminuído, mas ainda consome milhares de
quilômetros quadrados de floresta a cada ano. Os casos de doença por falta de
saneamento têm diminuído, mas os que têm insetos como causa aumentaram.
O relatório usa dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), Produto Interno Bruto
(PIB), Pesquisa da Produção Agrícola Municipal (PAM) e Projeção da População do
Brasil, todos do IBGE, além de dados de ministérios, secretarias estaduais e
municipais, Ibama, Data SUS, Iphan, Unesco e outras instituições.
Veja
abaixo alguns destaques do IDS 2015:
População em áreas
costeiras – Um dos dados apresentados pelo instituto é o aumento de 33%, entre
1991 e 2010, da população residente no litoral, saltando de 34,3 milhões para
45,7 milhões.
Um dos principais
efeitos da mudança climática, previsto por cientistas, é o aumento do nível do
mar em decorrência do degelo dos polos.
Essa elevação pode
afetar as populações que vivem áreas costeiras, inclusive no Brasil. A região
do país com maior vulnerabilidade à elevação dos oceanos é o Nordeste. Dos 53
milhões de habitantes distribuídos por nove estados, 20 milhões moram na costa
litorânea.
Emissões de CO2 – Ainda
em relação à questão das mudanças climáticas, o relatório do IBGE, baseado em
dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ressalta que as emissões
de dióxido de carbono (CO2) do país aumentaram 65% entre 1990 e 2005.
Em números absolutos, o
total de dióxido de carbono liberado na atmosfera no país saltou de 991.731
gigatoneladas para 1.637.905 gigatoneladas.
O CO2 é um poderoso gás
de efeito estufa e o aumento de seus níveis preocupa por influenciar o aumento
da temperatura do planeta, responsável por provocar as mudanças climáticas.
Entre 1990 e 2010, o
setor de energia foi o que mais emitiu dióxido de carbono no Brasil. O total
foi crescente no período, saltando de 179.948 gigatoneladas para 382.698
gigatoneladas. Houve aumento também nas emissões provenientes de processos
industriais e tratamento de resíduos. Na agricultura, houve alta no lançamento
de gases como metano e óxido nitroso.
Desmatamento – O IBGE
incluiu em seu relatório os dados do Sistema Prodes, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostram que o ritmo do desmate da Amazônia,
entre subidas e descidas, diminuiu entre 1991 e 2013.
Em 1991, o
desflorestamento bruto na Amazônia Legal (bioma que abrange todos os estados da
Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão) foi de 11.030 km². A
devastação atingiu seu pico em 1995 (29.059 km²), mas houve nova redução. Em
2013, último dado tabulado pelo IBGE neste relatório, houve perda de 5.843 km².
As informações
representam o índice oficial de perda de vegetação amazônica do governo federal
e avaliam os meses que integram o chamado “calendário do desmatamento”,
relacionado com as chuvas e atividades agrícolas (o índice de 2013, por
exemplo, vai de agosto de 2012 a julho de 2013).
Mata Atlântica e
Cerrado – O relatório apresenta ainda a quantidade de áreas remanescentes de
vegetação nos demais biomas brasileiros. A partir de informações do Ibama, o
documento mostra que, até 2012, restavam 14,5% da vegetação original de Mata
Atlântica (189,5 mil km² de 1,3 milhão de km²).
Do Pampa, presente na
Região Sul, até 2009 restavam 36%, o equivalente a 63,7 mil km². Até 2010, o
Cerrado teve desmatado 49,1% de sua vegetação original, restando 1,03 milhão de
km².
Do Pantanal, ainda há
84,6% de área preservada, o que totaliza 127,2 mil km². Ainda de acordo com o
relatório do IBGE, 46,6% da Caatinga foram desmatados até 2009, restando 441,2
mil km² do bioma.
Queimadas – Entre 2008
e 2013, o Cerrado foi o bioma que mais registrou focos de queimada, de acordo
com os dados do IBGE, a partir do monitoramento de focos de calor do Inpe.
No período, o Brasil
registrou 937,7 pontos de calor, sendo que 373,7 mil (39,8%) ocorreram nos oito
estados que compõem o Cerrado.
Os dados do relatório
do IBGE mostram que 1.152 espécies da flora e da fauna brasileira são
consideradas ameaçadas de extinção. Os números apresentados são de 2008,
portanto o número desde então pode ter aumentado.
A Mata Atlântica é o
bioma brasileiro com a maior quantidade de espécies da flora e fauna ameaçadas
de extinção. São 544 espécies (275 da flora e 269 da fauna) em risco de
desaparecer.
Agrotóxicos – A
quantidade de agrotóxico entregue ao consumidor final mais que dobrou entre
2000 e 2012, segundo o IBGE. Em 2002, quando houve o menor uso no período, a
comercialização do produto era de 2,7 quilos por hectare. Em 2012, esse número
chegou a 6,9 kg/ha.
O relatório apontou que
os produtos considerados perigosos foram os mais representativos, respondendo
por 64,1% dos itens comercializado entre 2009 e 2012. Segundo o especialista do
IBGE, esse resultado foi puxado por um herbicida denominado glifosato.
“É um produto
medianamente perigoso e muito usado na cultura da soja. Está-se usando muito no
país, principalmente na área do Cerrado e do Centro-Oeste. Glifosato é o
componente mais comercializado”, disse Rodrigo Pereira, gerente de estudos
ambientais da coordenação de recursos naturais e estudos ambientais do IBGE.
Doenças por falta de
saneamento diminuíram – De 2000 a 2013, diminuíram as internações por doenças
relacionadas a falta de saneamento ambiental no Brasil. Se, em 2000, havia
326,1 internações por esse tipo de doença a cada 100 mil habitantes, em 2013, o
número caiu para 202,6 a cada 100 mil.
Nesse período,
diminuíram os casos de doenças de transmissão feco-oral, de transmissão pela
água e relacionadas com a higiene, aponta o IBGE. As doenças transmitidas por
insetos, porém, aumentaram. Em 2000, foram 22 casos por 100 mil habitantes,
número que subiu para 34,9 casos por 100 mil habitantes em 2013.
A região com maior
incidência desse tipo de doença em 2013 foi o Norte. Já o Sudeste foi a região
com a menor incidência do problema.
Aids aumentou – A
incidência de Aids aumentou de 2000 para 2012: passou de 16,6 para 20,2 a cada
100 mil habitantes. Ainda de 2000 a 2012, o Brasil registrou um aumento de 4,7
anos na esperança de vida ao nascer: a expectativa foi de 69,8 para 74,5 anos.
No mesmo período, houve
uma redução da mortalidade infantil de 29,02 por mil nascidos vivos para 15,69
por mil nascidos vivos. Em 2012, a maior taxa de mortalidade infantil foi
registrada no Nordeste: 20,5 por mil nascidos vivos. A menor taxa foi observada
no sul: 10,8 mortes por mil nascidos vivos.
A desnutrição em
crianças menores de 5 anos também vem diminuindo progressivamente. Entre 2008 e
2009, a prevalência foi de 2,8%. Esse índice era de 18,4 entre 1974 e 1975. De
2002 a 2009, aumentou o número de estabelecimentos de saúde por mil habitantes:
de 0,37 para 0,49. O número de leitos para internação, porém, diminuiu,
passando de 2,6 para 2,23 por mil habitantes.
Educação – Os dados
compilados pelo IBGE mostram que o Brasil tem avançado rumo ao cumprimento de
metas internacionais, mas que ainda há desigualdades. Uma das áreas destacadas
pelo levantamento é a alfabetização de adultos.
Segundo a Pnad 2012, no
Distrito Federal e nos estados do Amapa, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul,
Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, a taxa de alfabetização
de jovens e adultos de cor branca é de entre 95,1% e 97,2% da população.
Já entre os jovens e
adultos pretos ou pardos, só no Distrito Federal e no Espírito Santo a taxa
chegou a esse patamar. Há ainda três estados (Alagoas, Maranhão e Paraíba) onde
a taxa varia entre 76,5% e 80% para os jovens e adultos negros. No caso dos
brancos, nenhum estado tem taxa abaixo de 80%.
A meta do Plano
Nacional de Educação (PNE) é ter, até o fim deste ano, 93,5% das pessoas com 15
anos ou mais alfabetizadas, e 100% até 2024. Em 2013, a taxa média nacional era
de 91,5%.
Menos energia renovável
– A energia renovável – hidrelétrica, gerada com lenha e carvão vegetal,
derivados da cana-de-açúcar, entre outras fontes primárias renováveis – perdeu
participação na matriz energética brasileira em 2012, mostra o IDS. Naquele
ano, ela registrou sua menor participação em uma década: 42,4%.
“Houve queda forte na
cana de açúcar e derivados, queda na hidráulica, em função principalmente de
fatores climáticos. Estamos passando por uma certa seca. Isso já vem de algum
tempo. A lenha também: na medida que diminuiu o desmatamento, diminui a lenha”,
explica o pesquisador de Recursos Naturais do IBGE, Júlio Gonçalves.
Mais energia não-renovável
– A participação de energia não-renovável na matriz energética brasileira
cresceu de 56,1%, em 2003, para 57,6%, em 2012, “principalmente na oferta de
petróleo e derivados, que passou de 36,7% para 39,2%, entre 2008 e 2012.
“Isso se deve à descoberta
das reservas de pré-sal e ao crescimento das vendas dos automóveis”, ressaltou
o IBGE. “ A produção de petróleo e gás começa a subir a partir de 2008.O que
está crescendo são as outras fontes de energia não-renováveis”, completou
Gonçalves.
De acordo com ele, no
entanto, as participações totais das não-renováveis estão caindo.
“Petróleo e gás são os
que puxam a não-renovável para ampliar a sua participação na matriz energética”,
completou o pesquisador.
Consumo energético – O
estudo mostrou também que o consumo final de energia per capita cresceu entre
2000 e 2012, com exceção de 2009, e passou de 41,5 gigajoules (GJ) por
habitante, em 2000, para 53,3 GJ/habitante em 2012.
“A população cresceu
1,2% ao ano em média, enquanto o consumo de energia exibiu crescimento de 3,3%
ao ano”, avaliou o IBGE.
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