A Exxonmobil, por exemplo, gastou milhões de dólares montando um time de pesquisadores para manipular a opinião pública sobre o aquecimento global.
Na última década
petrolíferas, montadoras, indústrias químicas, indústria do carvão,
siderúrgicas usaram o poder econômico para desacreditar o debate que os
cientistas começaram a realizar sobre o aquecimento global e a mudança do clima
no planeta. A Exxonmobil, a maior petrolífera do mundo – US$400 bilhões em
faturamento – financiou um grupo de 43 organizações para manipular a opinião
pública entre 1998-2005. Chegou a criar um time de pesquisadores para escrever
artigos contrários às teses de aquecimento global. Gastou pelo menos US$16
milhões. Nada comparado aos investimentos dos irmãos Koch – Charles e David -,
que juntos administram uma fortuna de 68 bilhões de dólares. São os donos da
Koch Industries – refinarias de petróleo no Alaska, no Texas e em Minnesota –
fábricas de celulose como a Geórgia Pacífica e uma ligação umbilical com a
ultra-direita estadunidense.
Koch
pai construiu refinarias para Stálin
A tática imposta por
estas corporações sempre foi a intimidação, comprando veículos de comunicação,
cientistas e políticos. O documentarista Roben Greenwald autor do filme Koch
Brothers Exposed, de 56 minutos, registra que os irmãos financiaram o Partido
Republicado em US$407 milhões na campanha de 2012, usando uma rede de 17 organizações
chamada de Freedom Partners. Denúncia comprovada pelo jornal The Washington
Post no ano passado. O dinheiro não era para fazer campanha política direta,
mas para incentivar o debate contra as ideias da reforma do sistema de saúde,
do aumento das punições dos crimes ambientais ou das despesas do governo. No
documentário são citadas outras quatro organizações que receberam dinheiro dos
Koch:
- Cato Institute com
US$13,6 milhões; Mercatus Center com US$9 milhões, Heritage Foundation com
US$3,4 milhões e Reason Foundation com US$2,4 milhões.
Sem contar a Fundação
dos norte-americanos pela Prosperidade – American for Prosperity – e da
Associação Nacional do Rifle. Charles e David aprenderam com o pai que o
governo é um perigo para os investimentos, o mercado é soberano para definir o
progresso do país. Por ironia da história, o pai formado em engenharia química
no tradicional MIT ajudou Stálin a construir 15 refinarias de petróleo na União
Soviética da década de 1930. Depois da segunda guerra mundial os Koch passaram
a enxergar o comunismo em qualquer canto. Um dos alertas dos Koch:
“- Os homens de cor são
parte do grande plano dos comunistas para dominar a América”.
Ocorreu
um racha entre as petrolíferas
A segunda maior empresa
privada dos Estados Unidos e uma das 10 que mais poluem, a Koch Industries tem
muitos motivos para lutar contra a redução de emissões de gases estufa. Assim
como Exxon, Chevron e Conoco Philips, as petrolíferas norte-americanas. Elas
ainda consideram que os combustíveis fósseis sustentaram a economia mundial por
muitas décadas ainda. Porém, em 2015 ocorreu um racha entre as petrolíferas no
mundo. As corporações europeias – Shell, BP, Total, Eni, Statoil -,
respectivamente representantes da Holanda, Reino Unido, França e Noruega
lançaram uma carta em junho passado fazendo uma mea culpa sobre o
posicionamento anterior, de condenação às mudanças climáticas. Elas querem
colocar um preço na poluição. Que, neste caso, é conhecido por carvão mineral.
Segundo relato da
Bloomberg as petrolíferas europeias foram pressionadas pelo braço econômico das
igrejas protestantes – no caso da Inglaterra com ativos na ordem de US$10
bilhões-, que ameaçaram jogar a discussão nas assembleias corporativas,
denunciando o boicote das petrolíferas. Chegaram a consultar as corporações dos
Estados Unidos, porém, a Exxon não compareceu à reunião no American Houston
(Texas) e a Chevron se mostrou contrária a definição de um preço para o carvão.
Austrália
considera o carvão vital
Trata-se de um confronto
de hipócritas. Tanto Shell como a BP exploram petróleo nas areias de piche na
província de Alberta, no Canadá, país que abandonou o Protocolo de Quioto em
2011, antes de ser multado por ultrapassar as emissões de gases estufa. Alberta
concentra 35% das emissões e o Canadá não pretende abrir mão de 300 bilhões de
barris de petróleo recuperáveis e faturar US$1,8 trilhão nos próximos 25 anos.
Mas o carvão, que é o combustível fóssil mais poluente, é o paradoxo do
capitalismo na atualidade. É denunciado em todas as esferas de discussões
climáticas porque de cada tonelada extraída são jogadas 2,4 toneladas de gases
de carbono, nitrogênio e enxofre na atmosfera. Ao mesmo tempo, os Estados
Unidos dependem dele para gerir 40% da eletricidade do país, a China 80%, a
Índia 70% e a Austrália no mesmo padrão.
A imprensa mundial
repercute notícias sobre os investimentos em energias limpas, mas não tratam do
carvão. O primeiro-ministro da Austrália, Tonny Abott, por exemplo, disse no
ano passado que o “carvão é vital para as futuras necessidades de energia do
mundo e o carvão é bom para a humanidade”. A Austrália, um dos países da OCDE
tem um nível de poluição de 25 toneladas por habitante, acima de qualquer dos
outros 34 membros e acima dos Estados Unidos – tem 20 toneladas per capita. O
Hunter Valley, a 120 km de Sidney produziu em 2013, 145 milhões de toneladas de
carvão, a maior parte exportada – a Austrália é o maior exportador mundial. O
governo do estado de Nova Gales do Sul, onde fica o Hunter Valley diz que o carvão
propicia 11 mil empregos e gera salários de mais de um bilhão de dólares.
Reino
Unido e Alemanha maiores importadores de carvão
Os Estados Unidos
lançaram um plano para incentivar o uso de energias renováveis e reduzir
emissões, porém as metas serão discutidas pelos 50 estados e está previsto um
plano de negociações de direitos de poluir. Estados como Wyoming, Virginia
Ocidental e Texas são produtores e mantêm usinas térmicas movidas a carvão. O
Texas colocou 19 usinas fora dos limites do governo federal, para que não
fossem enquadradas pela legislação ambiental. A China produz 1,289 milhões de
toneladas equivalentes de petróleo em carvão. Os Estados Unidos estão em
segundo lugar com 587,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo e
terceiro lugar para a Índia com 181 milhões. O Japão está em quarto lugar e a
Alemanha em sétimo. Não se pode esquecer que o carvão derrete o ferro, produz
ferro gusa e aço, o que movimenta a construção civil, montadoras e etc. Aliás,
Reino Unido e Alemanha são os maiores importadores.
Hipocrisia
na Europa – caso da Polônia
Como diz o presidente
da Associação Mundial do Carvão, Milton Catelin:
“- O carvão tem
alimentado as economias nacionais e globais e continuará a desempenhar um papel
fundamental no futuro. O desenvolvimento sustentável requer que o carvão seja
considerado não apenas através das lentes do aquecimento global, mas através do
seu impacto na segurança energética, desenvolvimento social, econômico e
melhoria ambiental. As elites políticas estão se baseando em fatos incorretos e
são facilmente seduzidas pelo politicamente correto.”
A hipocrisia europeia
também ficou escancarada durante a COP 19, em Varsóvia, na Polônia, país que
depende 90% do carvão para gerar eletricidade. O Movimento Nacional Polonês,
juntamente com o Sindicato Solidariedade desfilaram pelas ruas na Marcha pela
Independência defendendo as políticas do governo direitista que não abre mão do
linhito e da hulha. Independente da política da União Europeia de reduzir as
emissões em 20% até 2020. A Marcha pela Independência da direita polonesa foi
apoiada pelo Comitê para um Amanhã Construtivo, organização que tem um fundo de
doadores, comandado pelos irmãos Koch.
Não
respeitam lei alguma
O que as corporações
querem e estão defendendo dentro do sistema ONU são tecnologias para limpar o
carvão, desde a captura e enterramento do gás carbônico, até a gaseificação do
carvão. Ou seja, usando uma tecnologia que introduz nas minas um oxidante –
vapor de água, hidrogênio, oxigênio – com pressão e alta temperatura
transformam o sólido e um gás síntese, como é chamada, carregado de hidrogênio,
nitrogênio e enxofre, que serve de matéria-prima para a indústria química e
para produzir eletricidade. O que as corporações querem é CCS e GCS.
Na verdade, cada vez
mais o debate sobre as mudanças climáticas coloca de um lado as corporações e
seus movimentos políticos que são definidos como a nova direita, caso do Tea
Party, considerado pelos irmãos Koch como a melhor novidade nos Estados Unidos
desde a independência. De outro, os movimentos sociais que lutam por uma
planeta justo, multiético, plural e protegendo os ecossistemas naturais. O
fundador do Center for Public Integrity, Charles Lewis deu uma declaração para
a revista The New Yorker alguns anos atrás sobre os irmãos Koch, que define
este momento:
“- Eles não respeitam
lei alguma, praticam todo tipo de manipulação política e práticas para burlar
os controles públicos. Os Koch são a Standard Oil dos nossos tempos”.
Foi a primeira
corporação mundial comandada por John Rockfeller e traçou a maneira de atuar
dos trustes internacionais no século passado.
FONTE: http://cartamaior.com.br/
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