A falta de fornecimento de água seguro, adequado e
confiável para os setores altamente dependentes de recursos hídricos resulta na
perda ou no desaparecimento de empregos e pode limitar o crescimento econômico
mundial nos próximos anos, “a menos que exista infraestrutura suficiente para
gerenciar e armazenar a água”. O alerta é feito no, Dia Mundial da Água, pela
Organização das Nações Unidas (ONU).
A edição de 2016 do Relatório Mundial das Nações Unidas
para o Desenvolvimento de Recursos Hídricos é produzido pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em nome da ONU
Água. Com o tema a água e o emprego, ele mostra que 78% dos empregos que
constituem a força de trabalho mundial são dependentes dos recursos hídricos. “Nós temos algo em torno de 1,5 bilhão de
pessoas no mundo que ainda têm problemas de acesso à água, seja em quantidade
ou em qualidade. Isso afeta o emprego delas também”, disse o coordenador do
setor de Ciências Naturais da Unesco no Brasil, Ary Mergulhão.
A Unesco estima que mais de 1,4 bilhão de empregos, ou
42% do total da força de trabalho mundial, são altamente dependentes dos
recursos hídricos. Entre os setores mais atingidos estão a agricultura,
indústria, silvicultura, pesca e aquicultura, mineração, o suprimento de água e
saneamento, assim como quase todos os tipos de produção de energia. Esta
categoria também inclui empregos em áreas como cuidados de saúde, turismo e
setores de gestão de ecossistemas.
Também foi
estimado que 1,2 bilhão de empregos, ou 36% do total da força de trabalho
mundial, são moderadamente dependentes dos recursos hídricos. São setores para
os quais a água é um componente necessário em suas cadeias de valores, como
construção, recreação e transporte.
Desde os anos 80, a captação de água doce tem aumentado
mundialmente em cerca de 1% ao ano, principalmente devido à crescente demanda
em países em desenvolvimento, segundo a Unesco. “A redução da disponibilidade
hídrica vai intensificar ainda mais a disputa pela água por seus usuários. Isso
afetará os recursos hídricos regionais, a segurança energética e alimentar e,
potencialmente, a segurança geopolítica, provocando migrações em várias
escalas”.
Economia verde
Além do aumento da demanda, as mudanças climáticas são
uma ameaça à disponibilidade de recursos hídricos. “A mudança climática levará, inevitavelmente, à perda de empregos em
determinados setores. Uma abordagem proativa de adaptação por meio de políticas
pode amenizar algumas dessas perdas”.
A criação de oportunidades de emprego em atividades de
mitigação e adaptação e o mercado emergente de pagamentos por serviços
ambientais pode oferecer às populações de baixa renda a oportunidade de criar
um tipo de empreendedorismo, com aumento de renda e implementação de práticas
de restauração e conservação.
“A urbanização acelerada e o aumento dos padrões de vida,
o aumento da demanda por água, alimentos e energia de uma população mundial em
constante crescimento, inevitavelmente, levarão à criação de postos de trabalho
em determinados setores (por exemplo, tratamento municipal de águas residuais)
e à perda de postos de trabalho em outros”, diz o relatório.
Segundo a oficial do Programa Mundial das Nações Unidas
em Avaliação dos Recurso Hídricos da Unesco na Itália, Angela Ortigara, as
maiores potencialidade de emprego estão relacionadas com a economia verde. “Há
todo um trabalho para capacitar os empresários para essa transição econômica”,
afirma.
A produção de energia, por exemplo, como um requisito
para o desenvolvimento, possibilita a criação de empregos diretos e indiretos
por todos os setores econômicos. Segundo a Unesco, o crescimento no setor de
energia renovável leva ao crescimento do número de empregos verdes e
independentes de recursos hídricos. “Podemos dizer que a geração de energia
eólica e solar já cria mais empregos do que a de fonte convencional”.
Questões de saúde e gênero
Segundo o relatório, investimentos em saneamento e em
água potável de qualidade fomentam o crescimento econômico, com altos índices
de retorno. “O acesso ao suprimento de
serviços seguros e confiáveis de saneamento e de água potável de qualidade, nas
casas e nos locais de trabalho, em conjunto com a higiene adequada, são
essenciais para se manter uma força de trabalho saudável, educada e produtiva”.
A Unesco destaca as questões de direitos humanos,
economia verde, desenvolvimento sustentável e gênero, a serem consideradas
pelos gestores de políticas públicas ao tratar das relações entre recursos
hídricos e trabalho. “Anualmente,
2,3 milhões de mortes são relacionadas ao trabalho. Doenças contagiosas ligadas
ao trabalho contribuem para 17% dessas mortes e, nessa categoria, os principais
fatores para a proliferação dessas doenças, mas que podem ser evitados são água
potável de baixa qualidade, saneamento inadequado, falta de higiene e falta de
conhecimento”.
Segundo o relatório, cerca de 2 bilhões de pessoas
necessitam de acesso a melhor saneamento, com as meninas e as mulheres em
situação ainda mais precária. Ortigara diz que isso se deve ao fato de que, em
lugares sem infraestrutura, as mulheres são responsáveis pela coleta de água e
destinação das fezes, ou quando precisam sair de casa e se afastar da
comunidade para cuidar da higiene, muitas vezes sofrem violências nesses
percursos.
“E não estamos falando só de zona de guerra”, disse a
oficial, sobre os problemas relativos à água, saneamento, higiene e emprego.
Ela conta que um estudo feito em Bangladesh, com a distribuição de absorventes
íntimos em uma empresa onde 80% dos empregados eram mulheres, diminuiu as
faltas ao trabalho de 73% para 3%.
Políticas públicas
O relatório da Unesco recomenda que cada país, conforme a
sua base de recursos, potencialidades e prioridades, identifique e promova
estratégias específicas e coerentes, bem como planos e políticas para alcançar
o equilíbrio ideal entre os setores da economia e gerar o melhor resultado
possível de empregos decentes e produtivos, sem comprometer a sustentabilidade
dos recursos hídricos e do meio ambiente. “Com vistas a promover o crescimento econômico, a redução
da pobreza e a sustentabilidade ambiental, deve-se considerar os métodos que
reduzem a perda de empregos ou o deslocamento de pessoas, além daqueles que
maximizam a criação de empregos resultantes da implementação de uma abordagem
integrada na gestão dos recursos hídricos”, acrescenta o relatório.
2 comentários:
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