A partir da Rio 92 o
tema do impacto ambiental do consumo surgiu como uma questão de política ambiental
relacionada às propostas de sustentabilidade. Ficou cada vez mais claro que
estilos de vida diferentes contribuem de forma diferente para a degradação ambiental.
Ou seja, os estilos de vida de uso intensivo de recursos naturais,
principalmente das elites dos países do hemisfério norte, são um dos maiores
responsáveis pela crise ambiental.
Diversas organizações
ambientalistas começaram a considerar o impacto dos indivíduos, em suas tarefas
cotidianas, para a crise ambiental. Através de estímulos e exigências para que
mudem seus padrões de consumo, começaram a cobrar sua corresponsabilidade.
Assim, atividades simples e cotidianas como “ir às compras”, seja de bens
considerados de necessidades básicas, seja de itens considerados luxuosos, começaram
a ser percebidas como comportamentos e escolhas que afetam a qualidade do meio
ambiente. Dessa forma, muitos cidadãos se tornaram mais conscientes e
interessados em reduzir sua contribuição pessoal para a degradação ambiental,
participando de ações em prol do meio ambiente na hora das compras.
No entanto, esta ênfase
na mudança dos padrões de consumo não deve nos levar a entender que os
problemas ambientais decorrentes da produção industrial capitalista já tenham
sido solucionados com sucesso. Ao contrário, as lutas por melhorias e
transformações na esfera da produção estão relacionadas e têm continuidade nas
lutas por melhorias e transformações na esfera do consumo, uma vez que os dois processos
são interdependentes.
Por isso, uma das
primeiras questões que devemos fazer é se não estaria havendo uma espécie de
transferência da responsabilidade, do Estado e do mercado para os consumidores.
Muitas vezes, governos e empresas buscam aliviar sua responsabilidade,
transferindo-a para o consumidor, que passou a ser considerado o principal
responsável pela busca de soluções. Mas os consumidores não podem assumir,
sozinhos, toda a responsabilidade. Ela deve ser compartilhada por todos, em
cada esfera de ação.
Assim, quando nós,
consumidores, lidamos com dificuldades e dilemas diários relacionados ao nosso
papel, ao nosso poder e à nossa responsabilidade pela melhoria ambiental
através das nossas escolhas e comportamentos, estamos aprendendo a nos posicionar
sobre quem são os atores e quais são as instituições que devem ser responsáveis
por cada problema e cada solução. A ênfase na mudança dos padrões de consumo
deve ser vista, portanto, como uma forma de fortalecer a ação política dos
cidadãos. Essa nova forma de percepção e definição da questão ambiental
estimulou o surgimento de uma série de estratégias, como “consumo verde”,
“consumo ético”, “consumo responsável” e “consumo consciente”. Surgiu também
uma nova proposta de política ambiental que ficou conhecida como “consumo
sustentável”.
Consumo
verde
Consumo verde é aquele
em que o consumidor, além de buscar melhor qualidade e preço, inclui em seu
poder de escolha, a variável ambiental, dando preferência a produtos e serviços
que não agridam o meio ambiente, tanto na produção, quanto na distribuição, no
consumo e no descarte final.
Esta estratégia tem
alguns benefícios importantes, como o fato de os cidadãos comuns sentirem, na
prática, que podem ajudar a reduzir os problemas ambientais. Além disso, os
consumidores verdes sentem-se parte de um grupo crescente de pessoas
preocupadas com o impacto ambiental de suas escolhas.
Mas a estratégia de
consumo verde tem algumas limitações. Os consumidores são estimulados a trocar
uma marca X por uma marca Y, para que os produtores percebam que suas escolhas
mudaram. A possibilidade de escolha, portanto, acabou se resumindo a diferentes
marcas e não entre consumismo e não-consumismo. Muitas empresas passaram a se
interessar em mapear o poder de compra de pessoas com alto poder aquisitivo
interessadas em um estilo de vida de baixo impacto ambiental, percebendo-as
como um novo nicho de mercado. Assim, a necessidade de redução e modificação dos
padrões de consumo foi substituída pelo simples “esverdeamento” dos produtos e
serviços. Além disso, o consumo verde atacaria somente uma parte do problema –
a tecnologia – enfatizando o desenvolvimento de produtos verdes para uma
parcela da sociedade, enquanto os pobres ficam com produtos inferiores e com um
nível de consumo abaixo da satisfação de suas necessidades básicas. O tema da
desigualdade no acesso aos bens ambientais desapareceu completamente dos debates
e propostas de consumo verde .
Consumo
ético, consumo responsável e consumo consciente.
Estas expressões
surgiram como forma de incluir a preocupação com aspectos sociais, e não só ecológicos,
nas atividades de consumo. Nestas propostas, os consumidores devem incluir, em
suas escolhas de compra, um compromisso ético, uma consciência e uma responsabilidade
quanto aos impactos sociais e ambientais que suas escolhas e comportamentos
podem causar em ecossistemas e outros grupos sociais, na maior parte das vezes
geográfica e temporalmente distantes.
Consumo
sustentável
Esta proposta se propõe
a ser mais ampla que as anteriores, pois além das inovações tecnológicas e das
mudanças nas escolhas individuais de consumo, enfatiza ações coletivas e
mudanças políticas, econômicas e institucionais para fazer com que os padrões e
os níveis de consumo se tornem mais sustentáveis. Mais do que uma estratégia de
ação a ser implementada pelos consumidores, consumo sustentável é uma meta a
ser atingida. Para ficar mais claro, se é possível dizer “eu sou um consumidor verde”,
ou “eu sou um consumidor consciente”, não teria sentido dizer “eu sou um
consumidor sustentável”.
Além disso, a
preocupação se desloca da tecnologia dos produtos e serviços e do comportamento
individual para os desiguais níveis de consumo. Afinal, meio ambiente não está
relacionado apenas a uma questão de como usamos os recursos (os padrões), mas
também uma preocupação com o quanto usamos (os níveis), tornando-se uma questão
de acesso, distribuição e justiça social e ambiental.