Fundada
na Cidade de Goiás, a Escola Pluricultural Odé Kayodê é tida como exemplo na
área de educação ambiental. Ali, crianças de entre 3 e 10 anos aprendem na
prática como é o ciclo das plantas num jardim plantado por elas mesmas. Também
conhecem a vida no campo, em uma fazenda próxima, e aprendem sobre conservação
da água em um rio que passa atrás da escola.
Há
15 anos, o tema sustentabilidade está presente em todas as disciplinas. “Em uma
prova de matemática, você tem que saber qual o resultado de três árvores mais
duas árvores. É assim que a gente tem meio ambiente em tudo”, explica a
educadora Emicléia Alves Pinheiro
O
Ministério da Educação (MEC) quer que, assim como no colégio de Cidade de
Goiás, a educação ambiental passe a fazer parte do cotidiano de todas as
instituições de ensino do país. A escola, no entanto, é exceção. Transformar o
tema em uma realidade ainda é um projeto distante em praticamente todas as
cidades brasileiras.
Apenas
0,5% dos colégios públicos teriam condições hoje de cumprirem com as diretrizes
de educação ambiental, segundo levantamento feito pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Faltam professores, infraestrutura e
investimento para fazer com que as Diretrizes Curriculares para a Educação
Ambiental, aprovadas em 2012 durante a Rio +20, saiam do papel.
“A
maioria dos professores têm muita vontade. Muitos já têm até algum
conhecimento, mas não possuem recursos. As verbas para as escolas são restritas
e até para treinamentos, nós temos que oferecer os materiais em vários casos”,
diz Miriam Duailibi, presidente do Instituto Ecoar, que forma professores em
todo o país.
Falta
de pessoal –
O desenvolvimento da educação ambiental é uma necessidade para todas as regiões
brasileiras, segundo o MEC. Nordeste e Norte são apontados como as áreas que
demandam maior atenção para incentivo desse tipo de iniciativa, por causa das
condições de infraestrutura e de gestão das escolas.
Para
atender às exigências do MEC, muitas unidades comprometem outras disciplinas.
“Em alguns lugares, eles tiram uma aula de ciências, por exemplo, e colocam uma
de educação ambiental. O problema é que nem sempre há profissional qualificado
para isso. Não é possível trabalhar transversalmente com a estrutura de hoje”,
afirma o secretário de assuntos educacionais do CNTE Heleno Araújo.
A
falta de tempo é outro aspecto que impacta o processo, segundo especialistas.
“O professor tem de trabalhar em várias escolas, para poder sobreviver, o que
não permite que invista em sua especialização e atualização. É necessária
formação continuada destes professores, investir em sua valorização
profissional”, comenta o pós-doutor em educação ambiental, Luiz Fernando
Silveira Guerra.
A
realidade vai de encontro ao que as diretrizes determinam. Resultado de cinco
anos de debates entre educadores ambientais, legisladores e sociedade, elas
estabelecem o tema como prioritário, que deve ser tratado de forma transversal.
“Não
pode ser trabalhada de forma isolada. Em todas as aulas seria necessário haver
lições que abordem este tema, para estabelecer um convívio harmônico e
integrado com o meio ambiente”, explica Duailibi.
Iniciativas
isoladas –
Apesar de existir um movimento governamental que incentiva a inserção do tema
educação ambiental em todos os níveis, os projetos existentes ainda são ações
pontuais. Guerra afirma que “maior parte das iniciativas ainda ocorre em
projetos e atividades extra-curriculares, com a participação de poucos
professores”. Em muitos casos, eles são incentivados por organizações civis e
com apoio da comunidade escolar.
Exemplo
disso pode ser visto em Joinville (SC). Através da parceria entre professores,
alunos, funcionários, pais e a comunidade local, a realidade do Centro de
Educação Infantil Municipal Raio de Sol foi transformada. A partir de 2010,
áreas antes de cimento ganharam vida ao receberem espaços como lagoa, jardim,
horta e pomar.
“As
crianças não podiam andar descalças, porque tudo era de cimento e brita. Agora,
elas têm vários espaços onde podem interagir com a natureza”, comenta Marlene
Malschitzky, supervisora gestora da Secretaria Municipal de Educação.
O
Ministério da Educação reconhece que ações como esta ainda precisam de mais
incentivo. A entidade garante que ainda falta investimento e estrutura.
“A
maioria das escolas ainda está às voltas com questões, que embora de caráter
socioambiental, não são reconhecidas como tal, como espaços físicos
insuficientes, inadequados e mal aparelhados. Há escolas, por exemplo, que não
dispõem de água corrente, coleta de esgotos ou prédio próprios. Há também uma
grande dificuldade dos educadores e gestores públicos em converterem as
questões socioambientais em pauta, seja nas aulas, seja fora delas, promovendo
o enfoque transversal”, destaca Macaé Evaristo, secretária de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC.
De
acordo com ela, são realizados investimentos em seminários e formação
continuada de professores, para garantir o aprofundamento no tema. Além de
projetos para disponibilizar recursos em projetos nessa área. Ela também
destaca que é realizada a Conferência Infanto-juvenil pelo Meio Ambiente, que
reúne professores e alunos de todo o país em eventos regionais e nacionais,
para debater a educação ambiental. (Fonte: Terra)
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